Por Luís Joly
Largou muito bem, mas logo na terceira volta, já estava perdendo rendimento. O pior ainda era acompanhar a transmissão pela televisão, já que os narradores insistiam que Michael Schumacher também estava com pneus intermediários. Estava nada. Aliás, a impressão que deu em alguns momentos é que o alemão teria rodado de propósito, só para mostrar ao mundo inteiro que ainda consegue ultrapassar alguém. A televisão italiana não esclareceu em nenhum momento como de fato aconteceu a rodada do alemão.
Enquanto isso, Barrichello decepcionava, novamente. Fez uma parada logo no início e voltou atrás do próprio companheiro. Incrível como Rubens em alguns momentos dá a impressão de ficar incomodado com o fato de estar à frente de Schumacher. Para quem assiste, parece um fato tão raro, tão incomum que incomoda à todos ao redor. E, quando ele está imediatamente à frente, como foi o caso das últimas voltas, parece ser por compaixão do companheiro. Jamais por determinação, lembrando de disputas como a da McLaren na Hungria em 1988, entre tantas outras.
Acontece que nós não estamos em 1988. Longe disso, a Fórmula 1 de hoje é muito mais solitária, onde o que você faz quando está sozinho vale mais, e não quando está roda com roda com um companheiro na categoria. É assim, simplesmente, que a categoria funciona. E foi dessa maneira que o alemão chegou ao sétimo título e já aponta para o oitavo em 2005, se continuar. Barrichello ontem conseguiu, após anos na categoria, fazer o que o alemão faz desde sempre. Parou pela segunda vez, e enquanto ouvíamos o limitado narrador especular sobre a impossível chance de não parar uma terceira vez, o brasileiro da Ferrari conquistava sua vitória. Com voltas voadoras em seguida, aumentou uma diferença de 10 segundos para 22. E voltou ainda na liderança, com o companheiro atrás, escoltando o brasileiro.
Novamente não houve briga entre eles. Somente uma eterna troca de olhares pelo espelho e, pior ainda, a perfeita imagem da disparidade que existe entre Schumacher e todos os outros, definitivamente incluindo Barrichello. O piloto citou até seu ídolo Ayrton Senna durante as entrevistas, lembrando um momento que o tri-campeão fazia voltas voadoras em Mônaco, 1988. Não citou, porém, que essa frase de Senna se aplicava a treinos, onde o brasileiro da McLaren detém o único recorde decente que ainda não foi batido por Schumacher, mesmo tantos anos depois. Barrichello venceu bem e, de certa forma, tentou fazer o mesmo que Senna fazia. Mas, para o brasileiro, fica sempre aquele gostinho de que poderia ser ainda melhor.