O Grande Prêmio do México de 2025 será lembrado por muito mais do que a vitória impecável de Lando Norris, que reassumiu a liderança do Mundial na reta final da temporada. Dentro da pista, a corrida entregou emoção, estratégia e um vencedor que merecia ser celebrado. Fora dela, no entanto, o espetáculo foi manchado por um comportamento lamentável vindo de parte da torcida, que transformou um dos eventos mais festivos do calendário em motivo de preocupação e vergonha. E isso diante de um público gigantesco: 401.326 pessoas passaram pelo Autódromo Hermanos Rodríguez ao longo dos três dias de evento.
Desde a sexta-feira, vídeos começaram a circular mostrando diversas confusões nas arquibancadas. Em mais de uma ocasião, torcedores se envolveram em brigas, algumas exigindo intervenção de outros fãs para conter os envolvidos. O clima, que normalmente é de festa no Hermanos Rodríguez, deu lugar a cenas de descontrole, alimentadas por consumo excessivo de álcool e falta de respeito ao ambiente esportivo. Era evidente que o limite havia sido ultrapassado.
O ápice da decepção veio após a bandeirada, quando Lando Norris subiu ao palco do Foro Sol para celebrar uma vitória histórica e falar ao público. Em vez de aplausos, recebeu vaias. O piloto, que não tem rivalidade direta com o México, não provocou a torcida e não esteve envolvido em qualquer controvérsia com um ídolo local, foi recebido com hostilidade gratuita. Independente da preferência por pilotos, vaiar o vencedor de uma corrida apenas pelo resultado demonstra falta de espírito esportivo e desrespeito à essência da Fórmula 1.

A tentativa de justificar o comportamento da torcida chegou até à coletiva pós-corrida. Um jornalista mexicano afirmou que, segundo uma enquete local, as vaias teriam ocorrido porque parte dos torcedores acredita que Norris está sendo presenteado com o título. A pesquisa citada sugeria que o piloto deveria até mesmo devolver três pontos conquistados em uma corrida anterior, considerados por alguns como um suposto favorecimento. Surpreso, Norris reagiu com um simples e sincero “from where?”, deixando claro que sequer enxergava sentido na acusação. O piloto então explicou, com calma e firmeza, que a McLaren sempre buscou agir de forma justa e citou o episódio de Budapeste, quando abriu mão de uma vitória para devolver a posição a Oscar Piastri em um gesto de fair play. Para Norris, naquele outro caso que os mexicanos mencionaram, o time apenas corrigiu uma decisão equivocada e ele merecia estar à frente. A resposta, educada e coerente, desmontou a narrativa de favorecimento e expôs o quanto a vaia teve mais relação com desinformação, frustração e excesso emocional do que com esportividade.
A crítica aqui não é ao povo mexicano, nem à totalidade da torcida presente, porque muitos vibraram de forma correta e ficaram constrangidos com o que viram. O problema está em uma parte ruidosa da plateia que ultrapassou qualquer linha razoável de paixão pelo esporte. Em um campeonato global que visita culturas diferentes, cada país tem a oportunidade de mostrar ao mundo sua relação com a Fórmula 1. Infelizmente, neste ano, o México desperdiçou essa chance.
O GP do México é conhecido pela atmosfera única, pela festa no Foro Sol e pela energia contagiante. Porém, o que se viu em 2025 acende um alerta. O esporte exige respeito e o público tem responsabilidade direta sobre a imagem que seu país transmite. Não basta ter arquibancadas lotadas e ingressos caros se a experiência é marcada por violência e falta de respeito aos protagonistas do espetáculo.
Se o México quer manter seu status de uma das etapas mais celebradas do calendário, precisa olhar para o que aconteceu, reconhecer o erro e promover mudanças. Não se trata de exagero, nem de sensibilidade excessiva. A Fórmula 1 é um evento mundial e merece ser tratada como tal. Depois do que vimos, o mínimo que a etapa mexicana deve ao esporte é um pedido de desculpas seguido de atitudes concretas para que cenas como as de 2025 não se repitam.
