No Paddock da F1: Russell domina Singapura em noite tensa; McLaren sela o bi de Construtores sob rusgas internas

Sob as luzes de Marina Bay, George Russell executou uma corrida sem rachaduras e venceu com autoridade o GP de Singapura de 2025. Foi a performance que a Mercedes precisava para reabrir debates sobre teto de desenvolvimento e, principalmente, sobre o futuro do próprio Russell em Brackley: ritmo forte, leitura fria do momento e zero erros num circuito que pune qualquer hesitação.

A McLaren, por sua vez, celebrou, de forma contida, o bicampeonato de Construtores. O pódio de Lando Norris (P3), somado ao quarto lugar de Oscar Piastri, fechou a conta matemática com seis etapas de antecedência. Mas o título veio embrulhado em tensão: novamente, uma largada quente entre os dois, rádio fervendo e mais um pit stop lento para Piastri. Não é coincidência, é narrativa.

O filme da corrida
Russell largou com precisão cirúrgica, controlou o primeiro stint com pneus médios e respondeu ao undercut de Verstappen na volta 26, voltando à pista no comando. A Red Bull, que ousou iniciar com os macios no carro #1, não teve execução para transformar a estratégia em pista livre. Verstappen segurou a pressão de Norris por quase toda a prova, mas nunca teve condições para atacar Russell.

George Russell, após a corrida, resumiu o momento: “Senti que precisávamos neutralizar o Max na curva 1. Ele estava de macios, eu de médios — se ele passa, aqui é praticamente impossível devolver. O primeiro stint foi fortíssimo, e depois era só trazer para casa.”

No paddock, a leitura foi unânime: se Verstappen tivesse feito a curva 1 na frente, o desfecho seria outro. O próprio tricampeão, dono de 67 vitórias, admitiu:
“Se eu assumo a liderança no início, provavelmente venceria. Aqui é muito difícil ultrapassar. Quando não consegui na curva 1, virou corrida de gestão — e ainda tivemos problemas de trocas de marcha e equilíbrio.”

Do lado laranja, a largada voltou a ser o epicentro do drama. Norris mergulhou por dentro na curva 3, tocou levemente o carro de Verstappen e, em efeito dominó, empurrou Piastri para fora. Clima tenso, déjà-vu recente.

Lando Norris explicou: “Coloquei o carro por dentro, estava escorregadio. Toquei levemente o Max e tive uma correção. É corrida. Se eu não ganho as posições ali, não ganharia depois — como vimos, é difícil demais ultrapassar aqui.” Sobre Piastri, negou excesso de agressividade. “Não foi agressão ao meu companheiro — o toque foi no Max.”

Piastri, que herdaria a liderança brevemente durante a janela de pit stops, viu o filme recente se repetir: terceiro pit ruim seguido, agora por conta da roda traseira esquerda. Apesar da frustração, manteve o discurso público sob controle e salvou o quarto lugar, preservando a aritmética do título.

Oscar Piastri (AUS) McLaren MCL39 and Lando Norris (GBR) McLaren MCL39 battle for position at the start of the race.
Foto: XPB Images

O título da McLaren e o preço da liberdade
Nos bastidores, a festa foi protocolar. Em público, a McLaren manteve o discurso institucional. Zak Brown, no parque fechado, celebrou: “Um time inacreditável na pista e na fábrica. A liderança do Andrea, nossos parceiros, acionistas — é um esforço coletivo. Voltar ao topo consecutivamente… é especial.”

Andrea Stella reforçou o tom: “Seis corridas de antecedência parece surreal. É fruto de trabalho de anos. Obrigado à equipe, aos fãs e parceiros. Sabemos que 2026 será desafiador, mas estamos todos dentro.”

Mas o clima interno contou outra história. Assim que cruzou a linha de chegada, Oscar Piastri ouviu no rádio Zak Brown iniciar uma mensagem de parabéns pelo título de Construtores. O australiano, ainda visivelmente frustrado com o novo erro de pit stop, desligou o rádio no meio da fala. Pouco depois, deixou o carro sem cumprimentar a chegou atrasado na comemoração do título. O gesto, silencioso, sintetizou o desconforto crescente sob as papayas rules.

Com o bicampeonato confirmado, o tabuleiro muda: o título de Construtores deixa de ser escudo para ordens de equipe. A leitura é direta — sem a “camisa de força” de defender o campeonato, a McLaren terá mais dificuldade para sustentar decisões que preservem Norris em detrimento de Piastri, caso situações como a de Monza se repitam.

A própria fala de Zak Brown, reforçando “deixar correr”, define a linha mestra: “Eles correram brilhantemente o ano todo. Você não vence o Construtores sem dois pilotos incríveis. Nós deixamos eles correrem. Foi de roer as unhas, mas correm duro e limpo.”

No Paddock da F1: Russell domina Singapura em noite tensa; McLaren sela o bi de Construtores sob rusgas internas
Foto: XPB Images

Mercedes: a vitória que reorganiza prioridades
A execução de Russell foi tão limpa quanto o relatório técnico: sem superaquecimento crítico, janela de pneus precisa, degradação controlada. O britânico não desperdiçou a chance de puxar o assunto para 2026 — e para o próprio papel como pilar do projeto.

George Russell, na coletiva: “Sou um piloto diferente do de dois anos atrás. Pronto para lutar por campeonato. Se eu fizesse uma lista de pistas onde a vitória viria, Singapura estaria no fim. Precisamos entender por que fomos tão fortes, e carregar isso.”

Andrea Kimi Antonelli, em quinto, completou o fim de semana perfeito da Mercedes: consistência, maturidade e ritmo sólido para proteger o resultado duplo. O recado para Toto Wolff é claro: Russell é o agora; Antonelli, o amanhã.

Red Bull: progresso real, limite prático
Depois de duas vitórias seguidas (Monza e Baku), a Red Bull reacendeu a esperança. Em Singapura, evitou o colapso visto em Budapeste, mas encontrou o teto de performance do pacote nas curvas lentas e sob o calor intenso.

Verstappen reconheceu o avanço, mas também o limite: “Melhoramos muito nas últimas corridas. Hoje o câmbio e o balanço atrapalharam. Mesmo com carro perfeito, P2 seria o teto se largássemos atrás. Agora sabemos ‘por que e como’ podemos ser melhores.”

Helmut Marko chamou Singapura de “referência de calor” para medir o desempenho sob estresse térmico. O título de Verstappen ainda é matematicamente possível, mas depende de tropeços da McLaren — e da perfeição de Max. Duas condições raras de coexistirem em 2025.

O vestiário laranja
A pergunta inevitável pós-título: com a “taça grande” garantida, haverá mais liberdade — e mais atrito? Lando Norris respondeu: “Vai continuar igual: livres para correr. Nada muda.”

Trazudindo: o risco de faísca aumenta. No paddock, a leitura é que Andrea Stella precisará calibrar o “livres para correr” com protocolos claros para largadas, undercuts e ordens internas. O histórico recente (Monza e Singapura) pede processo, não apenas talento.

No Paddock da F1: Russell domina Singapura em noite tensa; McLaren sela o bi de Construtores sob rusgas internas
Foto: XPB Images

Mais bastidores selecionados
George Russell (sobre a largada e a escolha da Red Bull pelo macio):
“Achei uma jogada inteligente deles. Se o Max me passa na curva 1, ele vence. O Lando foi provavelmente o mais rápido hoje e não passou o Max. Então era crucial acertar a partida. Ainda bem que sim.”

Max Verstappen (sobre a estratégia):
“Tentamos algo diferente com o macio. Quando não funcionou na curva 1, virou corrida de gestão. Até com o duro, eu tinha pneus 6 ou 7 voltas mais velhos que George e Lando. Com os problemas de câmbio e o balanço longe do ideal, P2 foi o máximo.”

Lando Norris (sobre o toque e as regras internas):
“Ainda não revi, posso pensar que faria algo diferente. Mas qualquer piloto colocaria o carro ali. Julgar por isso seria não entender Fórmula 1. O toque foi no Max; com Oscar eu já estava por dentro. A FIA achou ok, o time também.”

Quem mais contou a história
Charles Leclerc x Lewis Hamilton: o monegasco cedeu pista para o companheiro tentar Antonelli, mas os freios de Lewis pediram arrego no fim. Ainda assim, o inglês resistiu a Alonso por 7s numa última volta dramática, mas acabou penalizado em cinco segundos por exceder os limites da pista e terminou atrás do espanhol na P8.

Antonelli (P5): stint final sólido e leitura fria do ar sujo e da temperatura, sinal de maturidade após a turbulência europeia.

Oliver Bearman (P9) e Carlos Sainz (P10): pontos importantes num grid congestionado, com Sainz vindo do pit lane e completando 50 voltas no mesmo jogo de pneus.

Título no bolso, conversa aberta
A McLaren é, merecidamente, a equipe da temporada. Mas Singapura expôs o dilema de toda superpotência: como administrar dois leões famintos no mesmo cercado quando o troféu de Construtores já está ganho. O discurso oficial fala em liberdade — a prática exigirá método, clareza e timing.

A Mercedes deixou o recado: não está morta. E a Red Bull encontrou meio passo, suficiente para manter Verstappen vivo na matemática, mas não para decidir sozinho contra dois carros laranjas.

Sob as luzes de Marina Bay, Russell brilhou. O campeonato, porém, escureceu um pouco mais para quem ainda acredita que talento sem processo vence no longo prazo. Agora é Austin, e a conversa fica ainda mais franca.



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