Mohammed Ben Sulayem é reeleito e garante segundo mandato na presidência da FIA

Sem concorrência válida no pleito, dirigente seguirá no comando até 2029 em meio a questionamentos jurídicos sobre o processo eleitoral

Mohammed Ben Sulayem seguirá como presidente da FIA por mais quatro anos. A reeleição, confirmada nesta semana durante a Assembleia Geral realizada em Tashkent, no Uzbequistão, garante ao dirigente um segundo mandato até 2029, mas o caminho até essa confirmação diz tanto sobre o poder interno da federação quanto sobre as fragilidades do seu sistema eleitoral.

Ben Sulayem foi reconduzido ao cargo sem enfrentar concorrência válida. Embora três nomes tenham sinalizado intenção de disputar a presidência — Tim Mayer, Laura Villars e Virginie Philippot — nenhum deles conseguiu cumprir as exigências estatutárias da FIA, que determinam a necessidade de apoio formal em diferentes regiões do mundo. No fim, apenas a chapa liderada pelo atual presidente foi homologada, tornando a eleição praticamente um rito protocolar.

O resultado foi anunciado como uma “supermaioria” da Assembleia Geral, que também confirmou os novos membros do World Motor Sport Council e do Conselho Mundial de Mobilidade e Turismo, ambos com mandatos válidos até 2029. Ao lado de Ben Sulayem, foram eleitos Malcolm Wilson, Tim Shearman e Carmelo Sanz de Barros para cargos de vice-presidência.

No papel, trata-se de uma vitória sólida. Na prática, o processo expõe um ponto sensível da governança da FIA: a dificuldade de surgirem candidaturas alternativas viáveis dentro das regras atuais. O estatuto exige que cada chapa apresente vice-presidentes representando seis regiões distintas, mas, neste ciclo, apenas uma indicação na América do Sul foi aprovada — Fabiana Ecclestone, esposa do ex-mandatário da Fórmula 1 Bernie Ecclestone, que já havia declarado apoio público a Ben Sulayem.

Esse detalhe não passou despercebido. Laura Villars, uma das candidatas barradas, ingressou com uma ação judicial contestando a lisura do processo eleitoral. Embora não tenha conseguido impedir a realização da votação, a Justiça francesa reconheceu que as “irregularidades levantadas precisam ser examinadas”. Uma audiência está marcada para fevereiro de 2026, curiosamente na mesma semana dos testes de pré-temporada da Fórmula 1 no Bahrein.

(L to R): Mohammed Bin Sulayem (UAE) FIA President and Stefano Domenicali (ITA) Formula One President and CEO on the grid.
Foto: XPB Images

Ou seja, apesar da reeleição formal, o mandato de Ben Sulayem começa sob uma nuvem de questionamentos jurídicos que podem, no mínimo, constranger politicamente a federação nos próximos meses.

Desde que assumiu o cargo em 2021, o dirigente dos Emirados Árabes Unidos acumulou decisões que dividiram opiniões no paddock. Seu mandato foi marcado por uma postura mais centralizadora, mudanças internas na estrutura da FIA e atritos frequentes com equipes, pilotos e até promotores da Fórmula 1. Ao mesmo tempo, Ben Sulayem mantém apoio sólido de clubes nacionais e federações, base fundamental para qualquer projeto de poder dentro da entidade.

A reeleição sem oposição reforça esse equilíbrio peculiar: forte sustentação política fora do paddock, combinada a uma relação tensa com parte do ecossistema da Fórmula 1. É um cenário que ajuda a explicar por que, mesmo com críticas recorrentes, Ben Sulayem segue no comando — e por que substituí-lo, dentro das regras atuais, se mostra uma tarefa tão complexa.

O segundo mandato começa em um momento decisivo para o automobilismo mundial. A Fórmula 1 se prepara para a maior mudança regulatória em mais de uma década, em 2026, enquanto a FIA tenta reposicionar sua autoridade em meio a disputas comerciais, técnicas e políticas cada vez mais expostas.

Ben Sulayem continuará no centro desse tabuleiro. Ele entra no novo ciclo fortalecido pelo resultado oficial, mas pressionado por um ambiente que cobra mais transparência, diálogo e previsibilidade. No paddock, a leitura é clara: o poder foi mantido — a legitimidade plena, no entanto, seguirá em debate.



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