A McLaren abre Lusail com autoridade; Verstappen vive a sexta-feira mais desconfortável do ano e Piastri assume o protagonismo técnico do fim de semana
O Catar costuma oferecer respostas rápidas. A pista fala alto já na primeira saída dos boxes, e o que vimos nesta sexta-feira foi uma declaração contundente: a McLaren desembarcou em Lusail muito mais pronta do que qualquer outra equipe. Num fim de semana de Sprint, onde um único treino livre define todo o eixo estratégico do sábado e do domingo, Oscar Piastri e Lando Norris transformaram o dia de preparação num aviso claro: eles têm um carro que não apenas se encaixa no circuito, mas que parece dialogar com ele.
A McLaren começou o dia com um equilíbrio raríssimo para um TL tão curto. Piastri liderou com 1min20s924, mas o tempo absoluto diz pouco perto do que a pista mostrou: o australiano estava confortável, limpo, preciso, extraindo velocidade em curvas longas — justamente o ponto que diferencia quem entende Lusail de quem apenas tenta sobreviver a ela. Norris, logo atrás, completava o quadro de uma equipe que acertou a mão cedo, algo essencial quando o cronômetro aperta e a margem para experimentação desaparece.
Do outro lado do cenário, Max Verstappen teve uma das sessões mais erráticas da temporada. A Red Bull nunca encontrou o ponto de ataque. O holandês reclamou de trocas de marcha, de instabilidade nas entradas e saídas de curva, de “saltos” que tiravam o carro da trajetória. O RB21 pesa mais do que aparenta em trechos de alta lateral, e Lusail, com sua curva 12 interminável, escancara tudo aquilo que não está 100% no chão. Verstappen fechou a sexta posição sem ritmo consistente, sem sensações positivas e, principalmente, sem qualquer resposta imediata que pudesse fingir otimismo.
Se a McLaren ditou o ritmo, Fernando Alonso mostrou que a Aston Martin ainda sabe encontrar janelas específicas onde o pacote funciona. O espanhol foi terceiro no TL, colocando o carro em posições que raramente apareceram em 2025, enquanto Carlos Sainz manteve o excelente momento da Williams e ocupou a quarta posição. Isack Hadjar, talvez o estreante mais sólido do ano, completou a sessão em quinto com uma performance limpa, adulta e finalmente reconhecida por números.

A classificação da Sprint apenas confirmou a fotografia do dia. Piastri, mais confortável do que qualquer outro piloto em Lusail, cravou a pole com 1min20s055 num ritmo de quem está no auge da confiança. Não houve oscilação, não houve hesitação. Foi um daqueles dias em que tudo funciona — e raramente a Fórmula 1 é tão generosa com alguém a ponto de permitir uma sexta-feira inteira assim.
George Russell colocou a Mercedes em segundo com uma volta extremamente agressiva, talvez sua melhor performance pura de classificação desde Spa. Norris, por sua vez, fechou em terceiro depois de um erro no último setor, um detalhe que tira pouco do contexto: seu carro está vivo, está rápido e está pronto para a disputa.
Alonso repetiu a força da manhã e ficou em quarto. Yuki Tsunoda, mais uma vez subestimado, superou Verstappen com autoridade – a primeira vez na temporada com o placar 24 x 1 a favor do tetracampeão, enquanto o holandês voltou a reclamar no rádio — “o carro está pulando como um idiota” — e não conseguiu completar uma volta realmente limpa. A Red Bull começou o fim de semana sem direção e sem leitura clara do que corrigir até a Sprint.
Gabriel Bortoleto entregou uma sexta-feira sólida, avançou ao SQ2 e marcou 13º no grid da Sprint, superando Nico Hülkenberg num circuito que pune qualquer piloto que não esteja perfeitamente alinhado com a dianteira nas curvas rápidas. Para quem vive uma temporada de aprendizado com curvas de exigência altíssima, o paulista mostrou maturidade e adaptação técnica real.
Do lado negativo, Lewis Hamilton viveu outra tarde frustrante. Preso no tráfego, incapaz de transformar ritmo potencial em tempo real, caiu no SQ1 e largará apenas em 18º na Sprint. A Alpine, por sua vez, segue afogada em inconsistência, com Pierre Gasly e Franco Colapinto fechando a tabela. A Mercedes oscilou, com Russell na frente e Kimi Antonelli no meio do pelotão num daqueles dias em que a equipe parece ter dois carros completamente diferentes.
O quadro geral deixa uma mensagem simples: a McLaren começou o Catar como favorita não só à Sprint, mas ao fim de semana inteiro. Piastri viveu sua melhor sexta-feira na Fórmula 1 desde as férias de verão europeu. É a combinação de ritmo, consistência, adaptação e profundidade técnica em sessões que, em Lusail, separam instantaneamente quem chega pronto e quem não chega.
A Red Bull, por outro lado, não domina mais o asfalto pelo puro peso da performance. E quando a pista exige compromisso total, como Lusail exige, qualquer desequilíbrio se torna uma fotografia ampliada. Verstappen chega ao sábado com mais perguntas do que respostas.
