Nenhum outro circuito da Fórmula 1 carrega uma relação tão íntima com o clima quanto Interlagos. A cada ano, o autódromo José Carlos Pace reafirma seu status de palco imprevisível, onde o sol e a chuva parecem disputar quem vai definir o resultado da corrida. Em São Paulo, o tempo é mais do que um elemento meteorológico — é parte da identidade do Grande Prêmio.
A história recente da Fórmula 1 prova que a chuva de Interlagos tem o poder de transformar o improvável em inesquecível. Em 2003, o caos dominou o autódromo: acidentes, bandeiras vermelhas e um resultado que só foi confirmado dias depois, com Giancarlo Fisichella declarado vencedor. Cinco anos mais tarde, em 2008, a chuva voltou a escrever um dos roteiros mais dramático do século: Felipe Massa cruzou a linha acreditando ser campeão, até Lewis Hamilton ultrapassar Timo Glock na última curva e conquistar o título mundial sob uma chuva fina que entrou para a história.
Em 2016, a chuva devolveu à corrida seu caráter épico. Max Verstappen, ainda na Red Bull, rodou, se recuperou e ultrapassou meio grid em condições extremas, em uma das atuações mais lembradas de sua carreira. E em 2024, a tradição se renovou: o holandês largou punido, enfrentou pista molhada, relargadas consecutivas e, na última volta, superou Boccono para vencer mais uma vez em Interlagos. Foi a prova viva de que o clima não apenas interfere na corrida — ele dita o enredo.
Um desafio técnico a cada curva
Para 2025, a previsão mantém o suspense típico de Interlagos. As projeções meteorológicas indicam temperaturas variando entre 17 °C e 25 °C, com alta umidade e possibilidade de pancadas isoladas em todos os dias do fim de semana. O microclima da zona sul de São Paulo continua sendo um desafio técnico: a pista pode estar seca na Reta Oposta e molhada no S do Senna em questão de minutos.

Isso obriga as equipes a decisões de risco. O uso dos compostos C2 (duro), C3 (médio) e C4 (macio) – voltando à escolha de 2023, escolhidos pela Pirelli para esta etapa, exige atenção redobrada: eles atingem temperatura ideal rapidamente, mas degradam rápido se o asfalto estiver frio. Acertos de asa traseira e altura do carro se tornam peças-chave — e qualquer leitura errada de radar pode custar caro.
Engenheiros e estrategistas sabem: em Interlagos, a previsão é apenas uma sugestão.
Pilotos que dominam o caos
Alguns pilotos parecem nascer para esse tipo de desafio. Lewis Hamilton construiu parte de sua lenda no molhado, enquanto Verstappen se consagrou justamente em corridas como as de 2016 e 2024. Lando Norris e Oscar Piastri, com estilos mais suaves, também se destacam por preservar pneus em pista fria. E o brasileiro Gabriel Bortoleto, em sua temporada de estreia na F1, chega com bom histórico em condições mistas nas categorias de base — mais um fator que aumenta a expectativa da torcida.
Interlagos é um organismo vivo. Por isso, mais do que em qualquer outro circuito, o clima é parte da alma do GP de São Paulo. Ele não apenas influencia a corrida — ele é o próprio espetáculo.
