Após ajustes no regulamento técnico, entidade deixa claro que qualquer tentativa de exploração será tratada com rigor máximo
A Fórmula 1 de 2026 ainda nem estreou na pista, mas já entrou oficialmente em sua fase mais sensível: a do controle. Em um movimento silencioso, porém revelador, a FIA decidiu agir preventivamente para bloquear possíveis brechas no regulamento dos novos motores híbridos, reforçando que a próxima era da categoria nascerá sob vigilância máxima.
O ajuste acontece em um momento estratégico. A temporada de 2026 marca a maior transformação técnica da Fórmula 1 desde 2014, com carros menores, mais leves, aerodinâmica ativa e uma divisão inédita de 50% entre potência elétrica e motor a combustão. Um cenário fértil para interpretações criativas — e, historicamente, para disputas políticas travestidas de inovação técnica.
Nos bastidores, relatos já indicavam que algumas equipes vinham explorando ambiguidades no regulamento, especialmente relacionadas a limites de compressão e ao gerenciamento energético das novas unidades de potência. Nada oficialmente fora das regras, mas suficientemente agressivo para acender o alerta da FIA. A resposta veio antes que o problema ganhasse corpo.
O ponto central da mudança está no controle do fluxo de combustível. A métrica tradicional, baseada em quilos por hora, foi substituída por um limite de fluxo de energia — 3000 megajoules por hora — alinhado ao uso de combustíveis sustentáveis e à lógica híbrida da nova era. Mais do que uma simples atualização técnica, trata-se de uma mudança conceitual: o foco passa a ser energia total, não apenas volume.

Outro detalhe nada trivial é a unificação do sistema de medição. A partir de agora, haverá um único medidor de fluxo, fornecido por um fornecedor homologado, com acesso simultâneo para FIA e equipes. Some-se a isso uma alteração cirúrgica na redação do regulamento, ampliando a proibição de qualquer sistema, procedimento ou método que altere a temperatura do medidor — uma resposta direta a tentativas históricas de manipulação indireta.
A mensagem política é clara. Como deixou explícito Nikolas Tombazis, diretor de monopostos da FIA, qualquer equipe que tente explorar essas zonas cinzentas estará, nas palavras dele, cometendo “suicídio”. Não se trata apenas de punição esportiva, mas de um aviso institucional: a entidade não pretende permitir que a narrativa da nova era seja contaminada por disputas regulatórias logo na largada.
Há também um componente simbólico importante. Diferente de outros momentos da história recente da Fórmula 1, a FIA tenta antecipar o problema, e não reagir a ele após títulos decididos, protestos formais e temporadas manchadas por controvérsias técnicas. É uma tentativa de aprendizado institucional — ainda que tardia para alguns.
No pano de fundo, esse endurecimento reforça algo essencial para 2026: a Fórmula 1 quer vender inovação, sustentabilidade e competitividade equilibrada, não um campeonato decidido por interpretações jurídicas de parágrafos técnicos. A batalha, ao menos oficialmente, precisa voltar a ser travada na pista.
A nova geração de carros promete mudar a forma de pilotar, de atacar e de defender posições. Mas antes disso, a FIA deixou claro que a primeira corrida da era 2026 já começou e ela está sendo disputada nos regulamentos.
