Sem o peso simbólico do heptacampeão na garagem, George Russell mudou o foco, reduziu erros e viveu sua temporada mais completa na Fórmula 1
A temporada 2025 marcou um ponto de virada silencioso, mas profundo, na carreira de George Russell. Pela primeira vez desde que chegou à Mercedes, o britânico não dividiu a garagem com Lewis Hamilton, e essa ausência não significou alívio, mas responsabilidade.
Russell não apenas assumiu o papel de referência técnica da equipe como respondeu com a temporada mais sólida de sua trajetória na Fórmula 1. Foram nove pódios, duas vitórias — no Canadá e em Singapura — e uma constância que o colocou logo atrás dos protagonistas da disputa pelo título, conduzindo a Mercedes ao segundo lugar no campeonato de construtores ao lado do estreante Andrea Kimi Antonelli.
Questionado se 2025 havia sido seu melhor ano na categoria, Russell não hesitou. “Sim, acho que foi”, afirmou. “Definitivamente o mais sólido em termos de performance, sistema emocional, menos erros. Então, no geral, foi.”
Mas o salto não veio apenas da mudança de cenário. Veio, sobretudo, de uma autocrítica rara para pilotos de ponta. Russell reconheceu que, durante os anos ao lado de Hamilton, sua obsessão em provar valor o levou a ultrapassar limites desnecessários.
“Isso sempre esteve na minha natureza, desde antes da Fórmula 1, e me ajudou a conquistar campeonatos”, explicou. “Mas durante o tempo com o Lewis, eu sentia que precisava me forçar ainda mais, ir além do limite, ver se havia algo a mais para tirar.”

A ambição, segundo ele, teve um preço. Em 2023, Russell já não se satisfazia com pódios ou quartos lugares. Buscava o resultado extraordinário, mesmo quando o carro não oferecia margem para isso.
“Eu não estava satisfeito só em lutar por pódios. Queria forçar os limites para tentar um resultado de destaque, em vez de me contentar com um P3 ou P4”, admitiu. “Isso acabou me prejudicando. Então, neste ano, eu segurei um pouco.”
O verbo escolhido é revelador: segurar. Em vez de atacar todas as oportunidades no limite, Russell passou a administrar riscos, preservar pontos e maximizar finais de semana — uma mudança de mentalidade que se traduziu em resultados maiores.
“Eu reduzi isso um pouco neste ano e, como consequência, provavelmente consegui resultados melhores”, concluiu.
Há um simbolismo claro nessa transformação. Enquanto muitos enxergaram a saída de Hamilton como um vácuo de liderança, Russell a transformou em um espelho. Sem a comparação direta com o maior nome da era híbrida, ele deixou de correr contra um fantasma e passou a correr contra si mesmo — com mais método, menos ansiedade e maior clareza de papel.
Em um momento em que a Fórmula 1 se prepara para uma revolução técnica em 2026, Russell chega à nova era não como promessa, mas como um piloto moldado por erros, autocontrole e maturidade. E, talvez pela primeira vez, não pela necessidade de provar algo a alguém, mas pela confiança de que já pertence ao lugar onde está.
