O GP de São Paulo entregou uma daquelas corridas que alteram o clima do campeonato. Interlagos expôs diferenças de ritmo que outras pistas escondem, e, ao mesmo tempo, trouxe uma história que não aparece apenas no resultado final: a recuperação absolutamente impressionante de Max Verstappen, que largou dos boxes, teve um furo no pneu ainda no início da prova e, mesmo assim, terminou com um ritmo médio equivalente ao de Lando Norris, vencedor do domingo. Acompanhe abaixo a interpretação dos gráficos, parceria do F1Mania.net com o F1Pace.com.
A narrativa da corrida começa justamente nesse ponto. Verstappen larga com pneus duros e, após apenas sete voltas, sofre um furo que obriga uma parada antecipada e totalmente fora do planejado. Isso não foi estratégia, não foi agressividade calculada — foi contingência pura. E é aqui que o cenário muda completamente. Porque, mesmo tendo sido empurrado para um caminho estratégico que não estava na mesa, Verstappen criou um ritmo capaz de recolocá-lo no mapa da corrida. Se o furo não tivesse acontecido, e se ele tivesse conseguido completar um stint inicial normal com os duros, os números mostram claramente que teria ritmo para disputar a vitória com Norris.

Os gráficos deixam isso explícito. A média do Norris foi de 1min14s145, a mais rápida do dia, mas Verstappen marcou 1min14s182, apenas trinta e seis milésimos acima — tudo isso após uma corrida inteira reconstruída desde a primeira parada. E essa diferença mínima é ainda mais significativa quando olhamos para a sequência dos stints. No primeiro trecho, antes do furo, Verstappen girava entre 1min15s3 e 1min16s0 preso no tráfego, sem ter sequer começado a extrair desempenho do pneu duro. A partir do momento em que ele coloca os médios, força da contingência, e encontra pista livre, o cenário vira de ponta-cabeça.

Gráfico: F1PACE.COM
É no segundo stint, de 27 voltas com pneus médios, que a corrida muda de coloração. Verstappen começa a produzir voltas na casa de 1min13s3 a 1min13s9, repetidamente mais velozes do que as do próprio Norris no mesmo trecho da corrida. O trecho entre as voltas 15 e 40 é simplesmente avassalador: o holandês encontra a temperatura ideal, trabalha com equilíbrio aerodinâmico e extrai um nível de tração nas saídas do miolo que aparece com clareza nos gráficos. Não há interpretação — os tempos estão ali.
Norris, por sua vez, faz exatamente aquilo que um líder consolidado precisa fazer. Com o carro mais equilibrado da temporada, administra o desgaste, controla a janela térmica e mantém sua consistência impecável. Mesmo quando Verstappen aparece numericamente mais rápido, o britânico sempre roda dentro da margem que lhe permite reagir em qualquer necessidade imediata. Sua combinação médio–macio–médio foi precisa do início ao fim, com baixíssima dispersão de voltas, algo que o gráfico destaca pela concentração de pontos entre 1min13s8 e 1min14s2 no terceiro stint.
No último trecho, com Norris voltando aos médios e Verstappen indo para um stint final de 17 voltas com macios, o padrão se mantém. O holandês ainda registra passagens muito fortes, mas o desgaste natural, somado ao peso estratégico da corrida reconstruída desde o furo inicial, impede que ele mantenha o mesmo ataque das voltas anteriores. Ainda assim, é impossível ignorar o quadro geral: ele correu em ritmo de vitória após um furo e uma largada dos boxes.

Enquanto isso, o pelotão intermediário teve uma das apresentações mais fortes da temporada. Oliver Bearman produziu um ritmo extremamente competitivo, especialmente no stint final. Nico Hülkenberg novamente exibiu sua impressionante consistência, praticamente sem oscilações significativas durante toda a corrida. Lance Stroll teve uma atuação muito sólida, particularmente no primeiro e segundo stints. Tsunoda, Ocon e Hadjar sustentaram o bloco intermediário com corridas limpas e ritmo constante.

Interlagos não apenas confirmou o estágio atual da McLaren como referência em consistência e gestão — também mostrou que a Red Bull, nas mãos de Verstappen, continua capaz de embaralhar qualquer previsão. O ritmo que o holandês apresentou após o furo não é apenas forte: é competitivo o suficiente para transformar sua corrida perdida em um resultado que, com cenário limpo, o colocaria na disputa direta com Norris pela vitória.
Com Las Vegas chegando, em um circuito de baixa temperatura, longas retas, frenagens fortes e muita dependência de tração, a leitura pós-Interlagos muda completamente. Se Verstappen produziu tudo isso começando dos boxes e perdendo o primeiro stint com um furo, o que pode fazer largando no lugar certo?
O GP de São Paulo não mostrou apenas a força da McLaren. Mostrou, sobretudo, que a disputa está longe de terminar.
