Novo ciclo técnico de 2026 cria um raro “ponto zero” para o francês enfrentar Verstappen sem herança pesada
Assumir o segundo carro da Red Bull Racing ao lado de Max Verstappen se tornou, nos últimos anos, um dos maiores testes de sobrevivência da Fórmula 1. Desde a saída de Daniel Ricciardo, poucos passaram ilesos por esse cockpit — e quase nenhum conseguiu construir um ciclo minimamente estável. Mas Isack Hadjar chega a esse cenário em um contexto radicalmente diferente.
Na leitura de Guenther Steiner, Hadjar carrega uma vantagem que simplesmente não existia para Liam Lawson ou Yuki Tsunoda: a ruptura completa de regulamentos em 2026. Para o ex-chefe da Haas, o timing da promoção é tão decisivo quanto o talento.
“Acredito que Hadjar é um piloto realmente muito bom”, afirmou Steiner. “E, em segundo lugar, ele tem a vantagem dos novos regulamentos. Isso permite que ele comece do zero junto com o Max.”
Esse “começar do zero” é o ponto central. Nos últimos ciclos técnicos, a Red Bull desenvolveu seus carros de forma cada vez mais alinhada às preferências de Verstappen. O resultado foi um RB moldado por anos de feedback do holandês — algo que Tsunoda e Lawson encontraram já pronto, complexo e extremamente específico.
Ambos chegaram a um carro com DNA definido, linguagem técnica consolidada e um ponto de referência inalcançável no curto prazo. Como Steiner resume, não era apenas uma questão de talento.
“Lawson e Tsunoda foram colocados em um carro com o qual Max já tinha muita experiência, e eles não conseguiram alcançar isso rapidamente”, explicou. “Além disso, o grid estava extremamente apertado. Hadjar tem condições melhores nesse aspecto.”

A mudança de regulamento para 2026 — com novo conceito aerodinâmico e nova geração de unidades de potência — oferece algo raro na Fórmula 1 moderna: um período inicial em que ninguém domina totalmente o produto. Nem mesmo Verstappen. E isso, para um piloto jovem, representa uma janela de influência real.
Diferente de seus antecessores, Hadjar não entra em um carro “feito para Max”. Ele participa da construção. Cresce junto com o projeto. E, dependendo do caminho técnico escolhido sob a liderança de Laurent Mekies, pode até ajudar a moldar o comportamento do carro desde as primeiras corridas.
O próprio Steiner reforça que, internamente, a Red Bull parece enxergar Hadjar como algo além de um simples escudeiro temporário.
“O lema precisa ser encontrar um talento que eles acreditam que possa se tornar quase tão bom quanto o Max”, disse.
Quase tão bom. Essa talvez seja a definição mais honesta do desafio. Não se trata de vencer Verstappen imediatamente — isso raramente acontece. Trata-se de não ser esmagado por uma estrutura técnica, política e esportiva que, nos últimos anos, não perdoou quem chegou atrasado à conversa.
