Equipe admite frustração, mas diz que relação com Lewis é “muito mais forte do que parece por fora”
A primeira temporada de Lewis Hamilton com a Ferrari terminou sem vitórias, sem pódios e cercada por ruídos que extrapolaram o desempenho em pista. Trocas de rádio ríspidas, adaptação difícil e um carro que raramente entregou o que prometia alimentaram a percepção externa de que a parceria não funcionou. Dentro da equipe, porém, a leitura é outra.
Quem faz esse contraponto foi Matteo Togninalli, chefe de engenharia de pista da Ferrari, ao afirmar que a imagem construída do lado de fora não reflete a realidade do relacionamento interno entre piloto e equipe.
“Mudar de piloto e mudar de equipe, principalmente para um piloto como Lewis, que passou dez anos no mesmo time, é muito difícil para os dois lados, para o piloto e para a equipe”, explicou.v“Cada equipe funciona de uma forma um pouco diferente, você se acostuma com certas pessoas e processos. Quando você coloca isso no contexto de que Lewis vinha de anos vencendo campeonatos, e que este ano nós não atingimos o objetivo de lutar pelo título, a frustração acaba criando esse cenário.”
Segundo Togninalli, é justamente essa frustração, coletiva, que amplificou a percepção de conflito.
“Acho que o que vocês veem de fora é muito pior do que realmente é. A relação com o Lewis, o que estamos construindo com ele, é extremamente positiva. Ele passou dez anos com as mesmas pessoas e, depois de apenas dez meses, já temos um vínculo muito, muito forte com ele.”
Ainda assim, a Ferrari reconhece que houve uma subestimação do processo de adaptação.
“Parte da dificuldade vem da frustração, parte do tempo que precisamos para nos adaptar uns aos outros. Talvez nós dois, a equipe e o Lewis, tenhamos subestimado isso no começo”, admitiu. “Mas não acho que a relação seja tão ruim quanto muitos imaginam. Com o tempo, tenho certeza de que vamos melhorar.”

No pano de fundo dessa discussão está um problema mais estrutural: a competitividade do SF-25. A Ferrari terminou 2025 sem vitórias, algo raro em sua história recente, e Togninalli aponta a classificação como o principal calcanhar de Aquiles.
“Noventa por cento do trabalho este ano é feito na classificação. Se você larga na frente, termina na frente”, afirmou. “Se você larga atrás, a menos que faça algo completamente diferente — ou esteja vindo do fundo do grid — é extremamente difícil ultrapassar.”
O engenheiro destacou a sensibilidade extrema dos pneus em voltas rápidas como fator decisivo. “Você pode ganhar ou perder dois ou três décimos só com a preparação dos pneus na classificação. É aí que temos focado e onde acho que melhoramos.”
Ele citou exemplos claros de como detalhes pontuais custaram caro ao longo do ano. “Em Las Vegas, o toque no bollard de Lewis nos custou a classificação. Com o Charles, não conseguimos a última volta no Q3. Se congelássemos o Q3 dois minutos antes, estaríamos em P3.”
A leitura interna da Ferrari é de que o grid esteve comprimido como nunca. “Estamos todos dentro de dois décimos. Em algumas classificações, você tem dez carros separados por um décimo. Uma diferença mínima muda tudo.”
O discurso da equipe, portanto, aponta menos para um problema de relacionamento e mais para um cenário de frustração técnica amplificada por expectativas altas. A Ferrari não nega que 2025 foi um ano duro — para Hamilton e para a própria estrutura —, mas tenta reposicionar o debate: menos drama humano, mais contexto esportivo.
