Antes mesmo dos primeiros testes, equipes transformam apresentações, pinturas e eventos em parte da narrativa da nova era técnica da categoria
A Fórmula 1 de 2026 ainda não virou uma roda oficialmente, mas o campeonato já começou. E começou longe do cronômetro. A chamada “launch season” – traduzido ao pé da letra, “Temporada de Lançamentos” -, deste ano ganhou um peso inédito justamente por anteceder a maior mudança técnica da categoria desde 2014. Carros novos, motores radicalmente diferentes e um paddock que entende que, em 2026, imagem, posicionamento e narrativa importam quase tanto quanto desempenho.
Com os testes de pré-temporada marcados já para o fim de janeiro, entre os dias 26 e 30, as equipes anteciparam seus cronogramas e transformaram os lançamentos em eventos estratégicos. Não se trata apenas de revelar uma pintura, mas de apresentar ao público — e ao mercado — como cada projeto pretende se posicionar nessa nova era de carros menores, mais leves, com aerodinâmica ativa e unidades de potência com divisão igual entre combustão e energia elétrica.
A largada simbólica acontece em Detroit, no dia 15 de janeiro, onde Red Bull Racing e Racing Bulls apresentam suas novas cores em um evento conjunto com a Ford Motor Company. Não é um detalhe trivial. O local e o formato deixam claro que o retorno da Ford como parceira técnica é parte central da narrativa da Red Bull para 2026 — e que essa nova fase começa já com discurso de poder industrial.
Poucos dias depois, no dia 20, Berlim vira o centro das atenções com a apresentação da Audi Revolut F1 Team. O evento marca oficialmente a transição definitiva da antiga Sauber para a estrutura Audi, agora sob uma identidade completa. Não é apenas uma pintura nova, mas a formalização de um projeto que mira o longo prazo e que entende a Fórmula 1 como plataforma global de marca, tecnologia e influência.
No mesmo dia, em outro fuso horário, a Honda faz seu próprio evento em Tóquio para apresentar o retorno pleno à Fórmula 1 como fornecedora oficial de motores. O gesto reforça algo essencial sobre 2026: esta será uma era em que os fabricantes voltarão ao centro do jogo político e técnico, com protagonismo que vai muito além das equipes de pista.

A semana segue intensa. No dia 23, uma sexta-feira, Ferrari e Alpine escolheram a mesma data para apresentar seus projetos, num movimento que carrega urgência. No caso da Ferrari, o lançamento vem embalado pela promessa de reação após uma temporada sem vitórias. Já a Alpine entra oficialmente em sua fase como cliente Mercedes, numa mudança que redefine completamente sua ambição esportiva.
Enquanto isso, no mesmo dia, a Haas opta por um lançamento mais contido, focado apenas na pintura, mas igualmente simbólico: a equipe quer mostrar que, mesmo sem o peso político dos gigantes, entra em 2026 com projeto alinhado desde o primeiro dia.
O calendário ganha um elemento de marketing puro com a estreia visual da Cadillac F1 Team durante o Super Bowl no dia 8 de fevereiro. A escolha do maior evento esportivo dos Estados Unidos deixa claro que a entrada da Cadillac na Fórmula 1 não é apenas esportiva — é cultural e comercial.
Na sequência, no dia 9, a Aston Martin revela seu carro já sob enorme expectativa: será o primeiro modelo concebido com influência direta de Adrian Newey, um detalhe que transforma o lançamento em um dos momentos mais aguardados do início do ano.
A atual campeã mundial, a McLaren, ainda não definiu a data de lançamento do seu novo carro, assim como Mercedes e Williams.
Em paralelo a toda essa coreografia, a Fórmula 1 já se prepara para colocar os carros na pista. Os testes privados em Barcelona abrem o ciclo, seguidos por duas semanas oficiais no Bahrein. Será ali que, finalmente, discurso e realidade começarão a se confrontar.
O que diferencia a “launch season” de 2026 das anteriores é o contexto. Não se trata de um ano comum. É o início de um novo ciclo regulatório, político e técnico, amparado por um Acordo da Concórdia recém-assinado e por uma categoria que vive um momento de expansão sem precedentes.
