Entenda a metodologia por trás da análise de ritmo, stints e desempenho na Fórmula 1
A partir do Grande Prêmio da Inglaterra de 2025, o F1Mania.net, em parceria com o f1pace.com, passou a utilizar gráficos analíticos avançados para interpretar e explicar, com base em dados objetivos, o desempenho real dos pilotos de Fórmula 1 em cada corrida. Esses gráficos não apenas representam o ritmo de corrida, mas também revelam como fatores como tráfego, degradação dos pneus, stints e estratégia influenciam os resultados finais. A seguir, explicamos a metodologia que norteia a produção e leitura desses gráficos.
1. Ritmo de corrida puro: o que é e como é calculado
O chamado ritmo médio de corrida apresentado nos gráficos é obtido por meio de uma filtragem específica que isola apenas as voltas representativas da performance real dos pilotos. São excluídas as voltas sob Safety Car ou Virtual Safety Car (VSC), as voltas de entrada e saída dos boxes (in-lap e out-lap), além da primeira volta da corrida, pela sua característica atípica de largada e disputas intensas. Esse filtro permite observar apenas o desempenho em ritmo constante, afastando interferências típicas de uma corrida de Fórmula 1.
2. Tráfego vs. pista livre: o impacto invisível no desempenho
Outro elemento essencial da análise é a diferenciação entre voltas em pista livre e em tráfego. Para isso, o F1Mania utiliza uma definição clara e quantitativa: considera-se que um piloto esteve em tráfego se passou mais de 33% da volta a menos de dois segundos do carro à sua frente. Essa distinção é representada nos gráficos pelo formato dos pontos: círculos indicam voltas em pista livre; losangos, voltas com tráfego. Essa visualização ajuda a explicar porque certos pilotos parecem ter ritmo inferior — quando na verdade estavam apenas enfrentando tráfego intenso.
Gráfico por f1pace.com
Visualização do gráfico – Ritmo de corrida/ Tráfego
• A barra horizontal sólida para cada piloto mostra seu tempo médio de volta, calculado apenas a partir das voltas representativas filtradas conforme explicado acima.
• Os pontos são posicionados horizontalmente para separar os stints. As voltas do primeiro stint de um piloto aparecem à esquerda, com os stints subsequentes posicionados mais à direita.
• Dentro de cada stint, os pontos são levemente deslocados para evitar sobreposição, tornando cada volta individual visível.
3. Pneus: tipo, condição e influência no ritmo
Nos gráficos de stint, cada ponto representa uma volta dentro de um determinado período de uso de pneus. As cores indicam os compostos utilizados (C1, C2, C3, C4, C5, C6, intermediário ou de chuva, conforme o padrão da Pirelli escolhido para a corrida). A condição do pneu é representada por padrões gráficos: barras sólidas indicam pneus novos; barras hachuradas, pneus usados, mesmo que tenham rodado apenas uma volta em treinos anteriores. Além disso, uma linha sombreada mostra a tendência de ritmo ao longo do stint. Uma curva descendente indica queda de performance (degradação); uma linha estável ou crescente aponta para um ritmo sustentado ou em evolução.
Gráfico por f1pace.com
Visualização do gráfico – Piloto do Dia
• A corrida é dividida em stints, que são períodos em que o piloto utiliza um mesmo conjunto de pneus. Cada vez que um piloto faz uma parada nos boxes, um novo stint se inicia. Esses stints são separados horizontalmente no gráfico para mostrar com clareza o desempenho em cada jogo de pneus. O tempo médio de volta para cada stint também é exibido, facilitando a comparação de ritmo entre diferentes partes da corrida.
• Cada ponto no gráfico representa uma volta individual.
A cor do contorno do ponto indica o composto de pneu utilizado (por exemplo, amarelo para médios, verde para intermediários).
O formato do ponto indica se o piloto teve pista livre: um círculo representa uma volta em pista limpa (clear air), enquanto um losango indica uma volta realizada em tráfego (traffic).
• O tempo médio geral de volta na corrida é exibido no topo com a etiqueta “average lap time”.
• A faixa sombreada que acompanha os pontos representa uma regressão estatística, que mostra a tendência dos tempos de volta ao longo do stint. Essa visualização ajuda a suavizar variações isoladas e torna mais fácil identificar a tendência real no ritmo de corrida de cada piloto.
4. Comparação de stints e estratégia de corrida
O gráfico de estratégia geral oferece uma visão ampla das decisões de cada piloto ao longo da corrida. Cada segmento colorido mostra qual composto foi utilizado, o padrão do bloco (sólido ou hachurado) revela a condição do pneu (novo ou usado), o comprimento do segmento indica quantas voltas durou aquele stint, e a altura do bloco representa a média de tempo por volta nesse trecho. Essa visualização revela onde os pilotos ganharam ou perderam tempo, e como as estratégias de pit stops influenciaram diretamente o resultado final.
Gráfico por f1pace.com
Visualização do gráfico – Estratégia da Corrida
• Cada segmento colorido representa um stint — ou seja, um período da corrida em que o piloto usou um mesmo conjunto de pneus. Quando a cor muda, isso indica que o piloto fez uma parada nos boxes e passou a usar outro composto de pneus.
• A cor de cada segmento está diretamente ligada ao composto utilizado durante aquele stint, permitindo visualizar, por exemplo, quem largou com pneus médios (amarelo), macios (vermelho) ou intermediários (verde).
• Condição dos pneus: o padrão dentro da barra colorida indica se o pneu era novo ou usado:
Uma barra sólida representa um jogo de pneus novo.
Uma barra com padrão hachurado representa pneus usados, que geralmente têm menos aderência e sofrem degradação mais rápida.
Um pneu é considerado “usado” mesmo que tenha sido utilizado em apenas uma volta de qualquer sessão anterior (treino livre ou classificação).
• Ritmo e duração do stint: dentro de cada segmento, dois dados principais são apresentados:
O tempo médio de volta considerando apenas as voltas representativas daquele stint.
O número de voltas completadas com aquele jogo de pneus (indicado entre parênteses).
5. Telemetria e decisões dos comissários
Em situações específicas — como disputas sob safety car, penalidades ou investigações de incidentes — o F1Mania.net também utiliza gráficos baseados em dados de telemetria. Eles comparam, por exemplo, a distância de frenagem, a velocidade instantânea, o ponto de desaceleração e o comportamento em voltas diferentes no mesmo setor da pista. No caso de Oscar Piastri, punido em Silverstone por “frenagem brusca” atrás do safety car, os dados mostraram que, na volta 21, sua desaceleração foi mais agressiva e em menor espaço do que na volta 17, contradizendo sua defesa de que estava sendo consistente.
Gráfico por f1pace.com
Contexto
Após a corrida, Oscar Piastri afirmou em entrevistas que sua retomada de ritmo na volta 21 — a qual gerou uma penalidade de 10 segundos — havia sido consistente com o que ele já vinha fazendo nas voltas anteriores atrás do Safety Car. Este gráfico analisa a telemetria dessas voltas-chave para verificar a veracidade dessa alegação.
Filtragem dos dados
• As voltas 16, 17, 19, 20 e 21 foram selecionadas para análise.
• A volta 18 foi excluída por ser uma volta lançada (flying lap), e não uma volta sob o Safety Car.
Análise
Os dados mostram que, embora o comportamento de Piastri tenha sido semelhante nas retomadas anteriores, a ação que gerou a penalização foi claramente mais agressiva:
Volta 17 (sem penalidade): Piastri reduziu a velocidade em 158 km/h ao longo de 154 metros.
Volta 21 (com penalidade): Ele desacelerou 165 km/h em apenas 128 metros.
Conclusão possível
A telemetria indica que a penalidade provavelmente foi aplicada porque a desaceleração na volta 21 foi significativamente mais brusca e repentina, ocorrendo em um espaço 26 metros menor. Embora seu comportamento na volta 17 tenha sido semelhante, essa ação mais súbita e agressiva na volta 21 pode ter sido considerada “inconsistente” ou “potencialmente perigosa” pelos comissários, o que levou à penalidade.
Uma leitura mais profunda da Fórmula 1
Com essa metodologia, o F1Mania.net oferece uma nova maneira de entender a Fórmula 1. Mais do que apenas resultados e classificações, os gráficos revelam o que de fato ocorreu na pista: quem foi mais rápido, quem cuidou melhor dos pneus, quem enfrentou tráfego e quem teve pista livre. O leitor pode agora interpretar cada corrida com base em dados objetivos, ganhando um olhar técnico e aprofundado sobre a performance dos pilotos e equipes.
Essa é a nova maneira de acompanhar a Fórmula 1: com dados, contexto e profundidade.
GP de Abu Dhabi