F1: Como Hülkenberg venceu Hamilton no GP da Inglaterra? Os dados explicam

Nico Hülkenberg quebrou barreiras em Silverstone. Depois de 238 Grandes Prêmios ao longo de 15 temporadas, o alemão finalmente conquistou seu primeiro pódio na Fórmula 1 — e o fez de forma espetacular. Com 37 anos, tornou-se o piloto mais velho a estrear em um pódio desde George Follmer em 1973. A terceira colocação no GP da Inglaterra marca também o primeiro pódio da Sauber em mais de uma década — o último havia sido com Kamui Kobayashi no Japão, em 2012 — e o primeiro de um piloto alemão desde Sebastian Vettel no Azerbaijão, em 2021.

A façanha é ainda mais significativa se considerarmos que Hülkenberg – que largou apenas na 19ª posição, derrotou ninguém menos que Lewis Hamilton, heptacampeão mundial, em um duelo estratégico que os dados ajudam a explicar. Nunca na história da equipe suíça um piloto havia largado tão atrás para alcançar um top-3. Com ultrapassagens na pista, ritmo consistente e decisões estratégicas impecáveis, Hülkenberg se destacou em um GP marcado por clima instável e condições traiçoeiras.

Estreando uma nova era de análise técnica, o F1Mania.net, em parceria com o f1pace.com, passou a utilizar gráficos analíticos avançados a partir do Grande Prêmio da Inglaterra de 2025. Essa iniciativa visa interpretar com profundidade o desempenho real dos pilotos na Fórmula 1 com base em dados objetivos, indo muito além dos resultados brutos. Os gráficos revelam nuances como ritmo de corrida puro, tráfego, degradação dos pneus, stints e estratégia. E para abrir essa nova fase, o primeiro conteúdo da série analisa Hülkenberg superou Hamilton em Silverstone — uma das atuações mais simbólicas da temporada. Entenda a metodologia.

Apesar do resultado final com Hülkenberg na terceira posição e Hamilton em quarto, os números mostram que o britânico da Ferrari teve um ritmo médio ligeiramente superior ao da Sauber: 1:40.236 contra 1:40.310. Essa diferença de 0.074s, no entanto, não se refletiu na pista — e a explicação está na evolução por stint e nas condições em que cada piloto correu.

Stint 1 – A escalada estratégica de Hülkenberg: de 19º para o top-10 em nove voltas
A recuperação de Hülkenberg começou antes mesmo da largada oficial. Partindo da 19ª posição, ele se beneficiou da decisão precipitada de cinco pilotos — George Russell, Oliver Bearman, Charles Leclerc, Isack Hadjar e Gabriel Bortoleto — que trocaram para pneus slicks ainda na volta de formação, obrigando-os a largar do pit lane. Logo depois, o acidente de Liam Lawson, seguido do incidente envolvendo Ocon e Tsunoda, tirou mais três adversários da disputa. Com isso, Hülkenberg emergiu em décimo ainda nas primeiras voltas, o que mudou completamente a perspectiva de sua corrida.

F1: Como Hülkenberg venceu Hamilton no GP da Inglaterra? Os dados explicam
Gráfico por f1pace.com

Com pneus intermediários, o alemão completou um stint de 9 voltas com ritmo médio de 1:46.517, contra 1:47.464 de Hamilton, que permaneceu 11 voltas na pista – quase um segundo de diferença. Ambos rodaram em condições similares de pista livre – segundo os gráficos da F1Mania que excluem voltas sob VSC, SC, volta 1 e in/out laps. Este início consistente pavimentou o caminho para uma estratégia sólida e uma corrida histórica.

Stint 2 – Consistência no coração da corrida: empate técnico entre Hülkenberg e Hamilton
Após o início promissor, Hülkenberg manteve a posição no grupo intermediário durante um stint prolongado com pneus intermediários — o mais longo da corrida entre os pilotos da ponta. Foram 33 voltas com ritmo médio de 1:43.339, enquanto Hamilton, com 30 voltas no mesmo composto, cravou 1:43.215 de média. A diferença de apenas 0.124s por volta mostra um equilíbrio técnico impressionante entre os dois veteranos, com vantagem mínima para o heptacampeão da Ferrari.

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Gráfico por f1pace.com

Ambos operaram boa parte desse stint em condições de pista livre, segundo os critérios de tráfego da análise (menos de 33% da volta a menos de dois segundos de um adversário à frente), o que valida a comparação direta entre seus desempenhos. Ainda assim, foi Hülkenberg quem permaneceu mais tempo em ritmo competitivo, sustentando a posição com inteligência e sem erros, enquanto outras estratégias colapsavam ao redor. Essa regularidade silenciosa se tornaria peça-chave na reta final.

Stint 3 – A diferença que definiu o pódio: Hülkenberg fecha melhor que Hamilton
A decisão da Sauber de calçar pneus médios novos para Nico Hülkenberg na parte final da corrida foi decisiva. Em seu terceiro stint, o alemão completou 10 voltas com ritmo médio de 1:32.215, o segundo melhor entre todos os pilotos no último trecho da prova. Hamilton, por sua vez, optou por pneus macios usados e, mesmo em condições semelhantes de pista livre, teve média de 1:32.408 em 11 voltas — uma diferença de 0.193s por volta a favor do piloto da Sauber.

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Gráfico por f1pace.com

O desempenho de Hülkenberg nesse final foi limpo, constante e sem tráfego relevante à frente, permitindo explorar ao máximo o potencial do C44 nas voltas derradeiras. Foi esse ritmo decisivo que o manteve à frente de Hamilton após a última rodada de pit stops, especialmente num momento em que as variações de temperatura e aderência exigiam leitura perfeita da pista e estabilidade emocional. Ao manter o ritmo sob pressão direta de um heptacampeão mundial, Hülkenberg consolidou não só o primeiro pódio da carreira, como também uma das performances mais eficientes da temporada.

Estratégia e execução perfeita
Mais do que ritmo puro, a Sauber acertou na estratégia e na execução. O pit stop foi rápido, a janela de troca foi ideal e a leitura de corrida foi cirúrgica. Hamilton, por sua vez, chegou a ficar perto após o segundo pit stop, mas perdeu tempo atrás de carros mais lentos no tráfego do pelotão intermediário e não teve voltas limpas suficientes para ameaçar a terceira posição de Hülkenberg.

O resultado final premia não apenas um piloto experiente que soube entregar quando teve o carro nas mãos, mas também uma Sauber em ascensão. Com este pódio, Hülkenberg coloca a equipe como a segunda que mais pontuou em Silverstone, atrás apenas da dominante McLaren — um feito expressivo para uma estrutura que até pouco tempo não brigava sequer por Q3.



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