Localizado na Île Notre-Dame, uma ilha artificial construída no rio São Lourenço, o Circuito Gilles Villeneuve é um dos mais tradicionais e desafiadores da Fórmula 1. Desde sua inauguração em 1978, o traçado canadense é conhecido por exigir precisão extrema dos pilotos, com freadas fortes, acelerações brutais e margens de erro quase nulas. É uma pista semipermanente — ou seja, não é usada regularmente para corridas durante o ano — o que adiciona ainda mais complexidade à sua superfície e aderência.
O circuito tem 4.361 metros de extensão e a corrida é disputada em 70 voltas, totalizando pouco mais de 305 quilômetros. Seu traçado é composto por 14 curvas, sendo 6 para a esquerda e 8 para a direita, conectadas por retas longas e três zonas de DRS, que proporcionam boas oportunidades de ultrapassagem. A característica principal do Gilles Villeneuve é o estilo “stop and go”, com sequência de acelerações intensas seguidas de frenagens severas — um verdadeiro teste para os freios e para o controle de tração.
Entre os trechos mais icônicos está a última chicane, onde os pilotos saltam sobre as zebras para ganhar tempo e desafiam o famoso “Muro dos Campeões”, localizado na saída da curva. O nome surgiu no GP de 1999, quando três campeões mundiais — Damon Hill, Jacques Villeneuve e Michael Schumacher — bateram no mesmo ponto durante a prova. Desde então, o muro ganhou status de símbolo do circuito, conhecido por não perdoar erros, mesmo dos mais talentosos.
Em 2024, o circuito passou por um recapeamento completo, mas manteve sua tradicional baixa abrasividade. A nova superfície, mais lisa, aumentou a sensibilidade dos pneus à temperatura e à borracha acumulada na linha ideal. Isso torna a evolução da pista entre as sessões um fator-chave para o desempenho, especialmente nas primeiras voltas de cada treino.
Outra característica marcante do circuito é sua instabilidade climática. Montreal costuma apresentar mudanças rápidas de tempo, o que pode transformar completamente a dinâmica da corrida. A alternância entre pista seca e molhada já causou reviravoltas históricas, como em 2011, quando Jenson Button venceu uma prova que teve bandeira vermelha, múltiplos incidentes e chuva intermitente.
Do ponto de vista técnico, o acerto ideal no Gilles Villeneuve exige baixo arrasto aerodinâmico para maximizar a velocidade nas retas, mas também boa estabilidade em frenagens, especialmente nas curvas 10 (hairpin) e 13/14 (chicane final). A suspensão precisa absorver bem os impactos das zebras, e a tração na saída das curvas lentas é crucial para manter a competitividade.
Não há espaço para erros no Canadá. Os muros estão sempre próximos, e a estreiteza da pista exige pilotagem limpa, precisa e agressiva. O resultado é um traçado que, mesmo com suas dificuldades, costuma proporcionar corridas emocionantes, repletas de ultrapassagens, abandonos e surpresas.