Em Interlagos, chefes dizem que obrigar duas paradas por regulamento tiraria o elemento tático e o fator humano que ainda diferenciam as provas na F1
O tema do momento nos bastidores da Fórmula 1 não é apenas a disputa pelo título, mas também o formato das corridas. Durante a coletiva desta sexta-feira (7) em Interlagos, os chefes James Vowles (Williams), Andrea Stella (McLaren) e Alan Permane (Racing Bulls) debateram a possibilidade de a FIA alterar o regulamento esportivo para obrigar duas paradas por corrida a partir das próximas temporadas. A ideia, defendida por alguns setores, busca aumentar o número de pit stops e o dinamismo das provas — mas recebeu reações cautelosas.
Alan Permane foi o primeiro a se posicionar: “Todos gostam de ver duas paradas, mas precisamos ter cuidado. O que torna uma corrida interessante é justamente a diferença de estratégias. Se você força um formato idêntico, acaba com esse elemento.” O engenheiro inglês lembrou que a variedade natural de escolhas surge quando os pneus têm comportamento que convida a diferentes leituras. “O segredo é fazer compostos que induzam uma degradação que leve naturalmente a duas paradas, não impor isso por regra”, disse o chefe da Racing Bulls aos jornalistas, incluindo o F1Mania.net.
Andrea Stella reforçou o ponto, defendendo prudência até a chegada do novo regulamento técnico. “Os pneus são o fator fundamental para gerar variabilidade nas corridas. Sempre que há degradação, há ultrapassagens, há decisões estratégicas. Mas precisamos lembrar que 2026 já será um ano de grandes mudanças — novo carro, nova unidade de potência, novo formato aerodinâmico. Devemos observar primeiro como será o comportamento em pista antes de mexer em mais uma variável.”
Para o chefe da Williams, James Vowles, a preocupação é semelhante: “O risco é que todos façam a mesma corrida, parando dentro de uma janela de uma ou duas voltas. Se for assim, perdemos a diversidade de estratégias que ainda existe hoje. O foco deveria ser acertar as bases — a degradação natural, as diferenças entre os compostos, e só depois pensar em um formato fixo.”
Apesar das ressalvas, os três reconhecem que o atual cenário tende a favorecer o uso de estratégias conservadoras, especialmente com pneus mais duráveis. “A categoria pode buscar formas de incentivar o risco, mas isso deve vir do produto, não da imposição”, resumiu Stella.
O debate segue dentro da F1 Commission, que discute ajustes no regulamento esportivo para 2026. Entre as ideias em análise, estão o aumento das diferenças de desempenho entre os compostos, janelas obrigatórias de uso e até pontuação bônus para quem fizer mais paradas — propostas que ainda dividem as equipes.
Por enquanto, a mensagem dos chefes é clara: mais do que criar regras novas, a Fórmula 1 precisa garantir que a corrida continue sendo decidida por estratégia, ousadia e execução — e não por um roteiro igual para todos.
