Brasileiro destaca aprendizado técnico como principal legado da temporada de estreia enquanto Sauber reconhece maturidade rara em um rookie
A temporada de estreia de Gabriel Bortoleto na Fórmula 1 pode não ter sido marcada por pódios ou grandes manchetes semanais, mas dentro do paddock ela foi interpretada como algo talvez mais valioso: a construção de fundamentos sólidos para uma carreira de longo prazo. Em um ano de transição para a Sauber, que já projeta sua transformação definitiva em equipe de fábrica da Audi, o brasileiro encerra 2025 com a confiança de quem aprendeu a linguagem mais complexa da categoria.
Bortoleto chegou à F1 credenciado pelo título da Fórmula 2 em 2024, mas encontrou um cenário duro logo de início. O primeiro semestre foi de sobrevivência técnica, com um carro pouco competitivo e foco quase total em desenvolvimento. Ainda assim, o brasileiro se manteve próximo do ritmo de Nico Hülkenberg, piloto experiente que concentrou a maior parte dos pontos da equipe.
Mesmo assim, com 19 pontos somados e um sexto lugar no GP da Hungria como melhor resultado, Bortoleto deixou uma impressão clara: evolução constante e leitura cada vez mais refinada do que a Fórmula 1 exige.
Ao fazer um balanço do seu primeiro ano, o próprio piloto foi direto ao apontar onde sentiu a maior transformação.
“No lado das corridas, foi principalmente o lado técnico”, explicou. “A quantidade de informação que recebi ao longo do ano e o aprendizado que tive com os engenheiros, estudando e fazendo todas essas coisas juntos, foi algo muito grande.”
O contraste com o início da jornada é revelador. Segundo Bortoleto, no teste de pós-temporada anterior à estreia, ele ainda não tinha repertório suficiente para interpretar o comportamento do carro.
“Eu sinto que, no teste de pós-temporada do ano passado, basicamente eu não sabia nada”, admitiu. “Eu não tinha ideia do que eu queria do carro, do que eu precisava do carro.”

Essa falta de referência ficou clara até mesmo nas conversas com os engenheiros.
“Eu estava falando com o meu engenheiro e ele me perguntou: ‘Você lembra de alguma coisa do teste do ano passado? Lembra de como o carro se sentia?’”, contou.
“E eu respondi: ‘Cara, não me pergunta isso agora! Faz tanto tempo e eu não tinha entendimento nenhum, então eu não quero te dar um feedback errado’.”
O próprio Bortoleto reconhece que, naquele momento, sequer sabia identificar corretamente suas preferências de acerto.
“O que eu gostava em um carro, por exemplo, não era o que eu estava usando. Então era por isso que ele estava me perguntando aquilo.”
Essa curva de aprendizado acelerada chamou a atenção da chefia da equipe. Jonathan Wheatley, que acompanha de perto o processo de transição da Sauber para Audi, foi um dos que destacaram publicamente a postura do brasileiro, avaliando que ele “está fazendo tudo certo” na construção da própria carreira.
Em um momento em que a Fórmula 1 se prepara para uma mudança radical de regulamento em 2026, o valor desse tipo de aprendizado vai além dos números frios da tabela. Mais do que resultados imediatos, Bortoleto sai de sua temporada de estreia entendendo como traduzir sensações em dados, dados em direção técnica e direção técnica em performance.
Para um projeto que pensa o futuro a médio e longo prazo, esse talvez seja o ativo mais importante que um rookie pode entregar.
