Obra vai além das vitórias na Fórmula 1 e mostra trajetória de superação, ativismo e transformação social de um dos maiores pilotos da história
Chega às livrarias brasileiras o livro “Sir Lewis”, biografia de Lewis Hamilton escrita por Michael E. Sawyer e publicada pela Editora Vestígio. A obra oferece um olhar inédito sobre o heptacampeão da Fórmula 1, abordando não apenas sua carreira nas pistas, mas também sua atuação como ícone cultural e defensor de justiça social. Com tradução de Renato Marques, o livro busca apresentar ao público brasileiro uma leitura abrangente sobre o impacto de Hamilton dentro e fora do automobilismo.
Mais do que recontar conquistas esportivas, “Sir Lewis” se debruça sobre temas como raça, classe social, representação e poder. Sawyer, que é professor de Literatura e Cultura Afro-Americana na Universidade de Pittsburgh, analisa o papel transformador de Hamilton em um esporte historicamente elitista e predominantemente branco. Ao destacar a presença do britânico na Fórmula 1, o autor constrói uma narrativa que une análise crítica e emoção, acessível ao público geral, mas também fundamentada academicamente.
O livro narra desde a infância do piloto no bairro operário de Stevenage até sua ascensão ao topo da F1, ressaltando a importância de seu pai, Anthony Hamilton, que se desdobrou para viabilizar os primeiros passos do filho no kartismo. A trajetória é marcada por obstáculos e conquistas, com o autor lançando luz sobre os momentos decisivos que moldaram a personalidade e o ativismo de Hamilton.

Um dos destaques do livro é a relação de admiração que Hamilton sempre teve por Ayrton Senna. O brasileiro é retratado como uma referência ética e técnica, tendo inspirado o britânico desde os tempos de kart. Segundo Sawyer, Senna foi fundamental para a formação do caráter do piloto inglês, especialmente na forma como este passou a lidar com pressões e injustiças dentro do esporte.
“Sir Lewis” também aborda a histórica parceria do piloto com a Mercedes, incluindo a liderança de Hamilton em movimentos sociais como o Black Lives Matter após o assassinato de George Floyd em 2020. A obra destaca ainda a fundação da Mission 44, criada para promover inclusão e oportunidades para jovens negros no Reino Unido, e sua mais recente mudança para a Ferrari — um dos capítulos mais inesperados da carreira do piloto.
Diferente de outras biografias, o livro não evita as contradições. Sawyer opta por um retrato honesto e crítico de Hamilton, abordando os desafios que ele enfrenta ao ocupar posições de influência e poder. A narrativa mostra um homem em constante transformação, que se tornou símbolo de uma nova geração de atletas engajados.
Fora das pistas, Hamilton é descrito como protagonista do chamado “cosmopolitismo negro contemporâneo”. Sua atuação no mundo da moda, da música e em eventos culturais como o Met Gala contribuiu para levar a Fórmula 1 a públicos até então pouco representados, como mulheres, jovens e famílias negras. Com isso, o britânico ajudou a ampliar o alcance e a diversidade dos fãs da F1 em nível global.
As iniciativas institucionais de Hamilton, como a Hamilton Commission e a Mission 44, também são abordadas com profundidade. As entidades têm como missão promover mudanças estruturais no setor automobilístico, propondo ações concretas como programas de estágio, incentivo à diversidade e inclusão de talentos sub-representados nas áreas técnicas e de engenharia.
O livro ainda relembra episódios marcantes da trajetória recente do piloto, como sua resposta firme às declarações racistas feitas por Nelson Piquet. Com coragem e postura, Hamilton transformou ataques em oportunidades para fortalecer sua plataforma por justiça e igualdade racial.
Com mais de 600 páginas, “Sir Lewis” é um retrato multifacetado de um dos maiores nomes da história da Fórmula 1. Ao unir a emoção das pistas com o peso das lutas sociais, a obra oferece ao leitor brasileiro uma oportunidade de conhecer não apenas o campeão, mas o homem que ousou transformar o esporte e o mundo ao seu redor.