De “categoria B” ao topo entre os rookies: a ascensão de Gabriel Bortoleto em 2025

A temporada 2025 terminou em Abu Dhabi com a coroação de Lando Norris e mais uma vitória de Max Verstappen. Mas por trás do duelo entre McLaren e Red Bull, uma das narrativas mais significativas do ano foi a estreia de Gabriel Bortoleto. Em um grid que se renovou com Kimi Antonelli, Isack Hadjar, Oliver Bearman e Franco Colapinto, o brasileiro foi quem apresentou a curva de evolução mais sólida, com performances sólidas e maturidade surpreendente para um piloto de primeiro ano na Fórmula 1.

Críticas antes da luz verde
Sua jornada começou ainda antes da luz verde no Bahrein, e começou sob forte crítica. No início do ano, Helmut Marko, consultor técnico da Red Bull e referência em avaliação de jovens talentos, classificou Bortoleto como “um piloto de categoria B”, sugerindo que seu teto competitivo não seria dos mais altos. Foi uma declaração que repercutiu globalmente, adicionando pressão a um estreante que já carregava o peso simbólico de recolocar o Brasil no grid. Meses depois, seria na pista que Bortoleto responderia e desmontaria completamente essa avaliação.

A primeira fase do campeonato foi marcada por adaptação, mas também por bons momentos. Em Ímola, um dos circuitos mais técnicos da temporada, Bortoleto mostrou rapidamente sua capacidade de leitura de curva e gerenciamento de pneus. Mesmo sem pontos, foi ali que começou a construir a reputação de piloto que entende o carro em ritmo de corrida.

Mônaco foi outro divisor de águas. Embora o resultado final não tenha traduzido o desempenho bruto, Bortoleto fez uma classificação precisa, especialmente no miolo lento, onde carros instáveis tendem a sofrer. A telemetria da Sauber mostrava tomadas de curva compatíveis com pilotos experientes do meio do pelotão, um sinal claro de evolução técnica.

F1 2025, Fórmula 1, GP da Austrália, Melbourne, Albert Park
Foto: XPB Images

A virada: os primeiros pontos na Áustria
A virada concreta, porém, veio em Spielberg. No GP da Áustria, etapa 11 do campeonato, Bortoleto entregou sua corrida mais madura até então: ritmo consistente, precisão em tráfego e decisões corretas de estratégia. O P8 final lhe garantiu seus primeiros 4 pontos na Fórmula 1. A frase pós-corrida, “Vamos começar daqui”, marcou simbolicamente a mudança em sua temporada.

Consolidação: Silverstone, Bélgica, Hungria e Itália
E de fato começou. A partir dali, sua postura em pista mudou. Em Silverstone, apesar do brilho de Norris, Oscar Piastri e do histórico pódio de Nico Hulkenberg, Bortoleto foi um dos pilotos mais consistentes do fim de semana, com ritmo médio competitivo especialmente no stint de compostos médios.

O desempenho evoluiu novamente em Spa-Francorchamps. No GP da Bélgica, etapa 13 da temporada, Bortoleto foi impecável em uma prova marcada por clima instável e adaptação constante. Terminou em P9 e somou mais pontos, confirmando que Spielberg não havia sido um ponto isolado.

Na Hungria, etapa 14, veio uma de suas atuações mais inteligentes de todo o ano. Em um circuito travado e exigente, o brasileiro uniu precisão, paciência e agressividade controlada, cruzando a linha de chegada em P6 e somando 8 pontos — seu melhor resultado da temporada e aquele que levou muitos analistas a citarem Bortoleto como o estreante mais completo do grid.

Gabriel Bortoleto (BRA) Sauber C45.
Foto: XPB Images

O GP da Itália, etapa 16, trouxe mais consistência. Em Monza, onde a Sauber contou com uma atualização aerodinâmica eficaz para trechos de alta velocidade, Bortoleto executou uma corrida sólida, sem erros, para terminar novamente em P8 e acrescentar mais 4 pontos ao campeonato.

México seria seu último momento de pontuação em 2025 — e um dos mais fortes da fase final. Na etapa 20, o paulista fez um fim de semana muito competitivo, aproveitando bem o traçado de alta altitude e administrando a corrida com maturidade. O P10 lhe rendeu mais 1 ponto e consolidou sua presença entre os estreantes de maior destaque do ano.

Somados, os resultados levaram Bortoleto a fechar sua temporada de estreia com 19 pontos. Um número significativo para um novato em uma equipe ainda em fase de transição, e um marco que reforça o quanto sua performance superou expectativas.

Erros que também moldam rookies: Brasil e Las Vegas
Mas o caminho até o final não foi linear, e isso é importante para entender a força de sua evolução. O GP de São Paulo, etapa mais emocional do calendário para qualquer piloto brasileiro, trouxe enorme expectativa depois do bom resultado no México. Contudo, a sprint o colocou na situação mais adversa de sua temporada: disputando intensamente com Alexander Albon, cometeu um erro e provocou um dos acidentes mais fortes do ano, comparável apenas ao impacto de Yuki Tsunoda em Ímola. No domingo, um toque simples com Lance Stroll resultou em novo abandono. Foi seu fim de semana mais frustrante.

Gabriel Bortoleto (BRA) Sauber C45 crashed out of the race.
Foto: XPB Images

Em Las Vegas, outro erro. Na primeira curva da corrida, Bortoleto tentou ganhar posições de forma agressiva e acabou atingindo novamente Stroll. A decisão foi amplamente vista como seu maior erro no campeonato. Mas ali também ficou evidente sua capacidade de recuperação emocional e mental: reorganizou o fim de temporada, mudou o tom e entregou uma boa corrida no Catar.

E assim chegou a Abu Dhabi. Um começo de prova excelente, colocando-se entre os sete primeiros, mostrou sua agressividade positiva e evolução no posicionamento de largada. O stint com pneus duros, porém, expôs limitações do carro e da estratégia, comprometendo o resultado final. Ainda assim, foi um encerramento à altura do desenvolvimento que viveu ao longo do ano.

De promessa a realidade
O balanço da temporada é indiscutível. Bortoleto entregou muito mais do que se esperava de um estreante. Superou a curva tradicional de aprendizado, acumulou atuações técnicas elogiadas no paddock e, acima de tudo, mostrou personalidade. Provou que Marko estava errado ao classificá-lo como “categoria B”. Provou que tinha velocidade, resiliência e leitura de corrida para disputar em nível alto. E provou que, mesmo com erros — naturais para um novato —, o material bruto é de piloto grande.

Circuit atmosphere - Gabriel Bortoleto (BRA) Sauber fan at the podium.
Foto: XPB Images

Dentro da Sauber, ele é visto como peça central no projeto que se transformará na Audi em 2026. Na imprensa internacional, apareceu repetidas vezes como candidato a melhor estreante do ano. Para os torcedores brasileiros, reacendeu a esperança de competir novamente em alto nível na Fórmula 1.

Se 2025 foi o início, 2026 promete ser a continuidade de algo maior. Gabriel Bortoleto deixou de ser promessa e se tornou realidade. Fez isso pela porta da frente, contrariando expectativas e construindo uma temporada que ficará marcada como uma das estreias mais completas de um brasileiro na F1.



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