Bots na pole: robôs atropelaram os fãs na venda de ingressos do GP de São Paulo?

Esgotamento em minutos, suspeitas de compra automatizada e vídeos de “compras em massa” reacendem a discussão sobre a segurança das vendas online de um dos eventos mais disputados da América Latina.

A venda dos ingressos para o GP de São Paulo de Fórmula 1 terminou tão rápido quanto uma volta lançada em Interlagos. Em poucos minutos, todas as entradas disponíveis para 2026 desapareceram do site oficial da Eventim, deixando milhares de torcedores frustrados. Nas redes sociais, o sentimento dominante foi de indignação — e uma pergunta tomou conta do debate: os bots assumiram o controle da fila virtual?

O assunto ganhou ainda mais força quando perfis no Instagram começaram a exibir vídeos de compras massivas, com dezenas de ingressos sendo adquiridos em sequência, possivelmente para revenda. A prática reacende uma discussão antiga, mas cada vez mais difícil de conter, sobre o uso de robôs para automatizar compras em eventos de grande demanda. Para um GP que reúne mais de 300 mil pessoas ao longo do fim de semana e é considerado o mais procurado da América Latina, o problema se potencializa.

Embora seja difícil comprovar tecnicamente o uso de bots sem acesso aos registros internos das plataformas, especialistas explicam que a operação é relativamente simples — e já bastante disseminada em shows, festivais e grandes eventos esportivos. Um bot pode escalar dezenas ou centenas de tentativas simultâneas, driblar sistemas de espera e completar formulários em frações de segundo, garantindo vantagem desleal sobre o comprador comum.

Bots na pole: robôs atropelaram os fãs na venda de ingressos do GP de São Paulo?
Foto: XPB Images

O que se viu nesta segunda-feira (17) reforça a percepção de que a tecnologia teve papel determinante na velocidade com que os ingressos evaporaram. Torcedores relataram instabilidade no site, demora para entrar na fila e mensagens de esgotado mesmo antes de completar o processo de pagamento. Outros usuários afirmaram que não chegaram sequer a visualizar setores disponíveis, enquanto relatos de supostas compras automatizadas se espalhavam pelas redes.

No mercado paralelo, os efeitos já apareciam poucas horas depois: anúncios de ingressos surgiram com valores multiplicados, alguns chegando ao triplo do preço original. Uma dinâmica que não apenas fere o consumidor, mas cria um ciclo em que quem domina ferramentas automatizadas lucra, e o fã real — aquele que acompanha a categoria o ano inteiro — fica de fora.

A discussão também pressiona plataformas de venda, como a Eventim, responsáveis por mitigar esse tipo de prática. Soluções já adotadas em outros países incluem limites rígidos por CPF, bloqueios de IP, múltiplas camadas de verificação humana e tecnologias anti-bot com inteligência artificial. No Brasil, entretanto, a disputa entre velocidade tecnológica e proteção ao consumidor ainda se intensifica a cada grande evento.

A reportagem entrou em contato com a Eventim, responsável pela comercialização dos ingressos do GP de São Paulo, solicitando esclarecimentos sobre os mecanismos adotados para impedir compras automatizadas e qual análise a empresa faz da venda desta segunda-feira. Perguntada sobre o que a Eventim faz para bloquear esses robôs e qual o mecanismo que impede esse tipo de venda, a resposta foi padrão. Leia a íntegra a seguir:

“A Eventim está presente em 27 países e é responsável pela comercialização de mais de 250 milhões de ingressos para em torno de 180 mil eventos por ano (eventos como Jogos Olímpicos de Paris e do Rio de Janeiro, final da Copa Libertadores da América de futebol em 2021 e de grandes tours de artistas internacionais como Coldplay entre diversos outros).

A empresa, líder do mercado europeu e a segunda maior empresa do mundo em venda de ingressos, informa que seus sistemas seguem os mais altos níveis de segurança tecnológica e possuem capacidade para processar a demanda intensa de tais eventos, o que se verificou, diante da efetiva aquisição, pelo público consumidor, do total de ingressos disponíveis à venda.

A Eventim, empresa contratada pelos promotores do evento para realizar as vendas dos ingressos, lamenta que não tenha sido possível atender à grande demanda de fãs que gostariam de comprar ingressos para o evento.

Iniciadas as vendas, o inventário – ainda que amplo, mas limitado de ingressos disponíveis, se esgotou rapidamente, considerada a procura simultânea de milhares de pessoas. O esgotamento dos ingressos quase que imediatamente à abertura de vendas é um fenômeno bastante comum aos eventos de grande relevância nos cenários nacionais e internacionais. Infelizmente, nestes casos em que a demanda por compra supera em muitas vezes o número de ingressos disponibilizados para a venda e por mais que nossos sistemas e operação funcionem na normalidade, há, na sua grande maioria, um grande sentimento de frustração dos fãs que reverbera negativamente na mídia e nas redes sociais.

Vale acrescentar que a Eventim repudia a prática de revenda de ingressos (cambismo), seja ela física ou através de sites como Viagogo, Stubhub, Funbynet, Eventbrite dentre outros. O cambismo é um dos principais problemas enfrentados pela indústria de entretenimento e de cultura no mundo, sendo uma prática nociva e nefasta, que prejudica não apenas a indústria em si (incluindo promotores, artistas e trabalhadores do setor); os consumidores, que acabam comprando ingressos mais caros e/ou falsificados; e o próprio Estado, já que não há recolhimento de impostos sobre esta prática ilegal. Inúmeros questionamentos e processos contra empresas de revenda de ingressos têm ocorrido pelo mundo. A Abrevin (Associação de Empresas de Venda de Ingressos), da qual a Eventim é associada, solicitou formalmente à Secretaria de Justiça e Cidadania do Procon-SP em 4 de agosto de 2022 que o órgão investigasse esta prática ilegal e nociva.”



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