Nem toda derrota se mede em pontos. Para Lando Norris, o GP da Bélgica foi um golpe mais profundo do que os oito pontos perdidos para Oscar Piastri na tabela. Foi uma virada simbólica. Depois de renascer em Silverstone com vitória e confiança, o britânico chegou a Spa largando da pole, com a chance clara de responder e retomar o fôlego na briga pelo título. Mas bastou a primeira volta, com pista ainda molhada e visibilidade reduzida, para que Oscar Piastri mostrasse quem ditaria o ritmo naquele domingo belga. Lewis Hamilton, em fim de semana difícil, salvou pontos com uma aposta certeira nos pneus slick. E Gabriel Bortoleto mostrou maturidade ao pedir passagem com o rádio na mão e ritmo na pista.
Um sabia, mas o outro também…
Com uma ultrapassagem precisa na reta Kemmel, antes mesmo da Les Combes, Piastri assumiu a liderança e não largou mais. Com isso, o australiano não apenas venceu sua sexta corrida no ano e abriu 16 pontos sobre Norris na tabela — ele também conquistou uma vitória simbólica, de autoridade dentro da equipe, em um fim de semana em que foi mais rápido do que o companheiro em todas as sessões relevantes. O contraste com Silverstone foi claro: se lá Norris parecia ter ganhado fôlego para reagir no campeonato, Spa foi o balde de água fria, não apenas literal, mas esportivo. Agora, com o GP da Hungria marcando a última prova antes das férias, o britânico terá que vencer se quiser um “descanso tranquilo” durante os 25 dias de folga.
Piastri afirmou que sua melhor chance de ultrapassar Norris seria logo na primeira das 44 voltas da corrida. “Eu sabia que a primeira volta seria provavelmente minha melhor chance de vencer a corrida. Consegui uma boa saída na curva 1. Desacelerei o mínimo que levantei na Eau Rouge. Foi o suficiente”.

Durante a primeira volta da corrida, Norris teve um problema na saída da La Source, o que o deixou vulnerável à ultrapassagem de Piastri na reta até Les Combes. Ao ser questionado sobre uma possível falha na bateria após a corrida, Norris foi claro: “Não”, e explicou que o real motivo para perder a posição foi o efeito de ‘slipstream’, que se intensifica nas condições de chuva.
“Sim, o ‘slipstream’. Vimos isso no sábado. Especialmente quando está molhado, e você é o primeiro carro, tem que forçar mais para passar pela primeira camada de água. Isso faz o efeito do carro atrás ser ainda mais forte”, afirmou Norris, enfatizando as dificuldades em liderar nas primeiras voltas, especialmente quando há vento contrário na reta.
“Sim, o ‘slipstream’. Vimos isso no sábado. Especialmente quando está molhado, e você é o primeiro carro, tem que empurrar para passar pela primeira camada de água. Isso faz o efeito do carro atrás ser ainda mais forte”, afirmou Norris. “Nada a reclamar. Ele fez um trabalho melhor na largada, e foi isso. Não havia mais o que eu pudesse fazer a partir daquele ponto. Eu adoraria estar no topo, mas Oscar mereceu hoje”, completou.
Hamilton tem boa leitura, troca para os slicks e salva fim de semana “horroroso”
Outro protagonista do domingo belga foi Lewis Hamilton. Após um fim de semana para esquecer em termos de classificação — fora do Q2 tanto na Sprint quanto no grid principal —, o heptacampeão largaria de 18º, mas partiu do pit-lane após adotar novos componentes na unidade de potência da Ferrari. Em Spa, que é terreno fértil para recuperações, Hamilton mostrou por que ainda é um dos pilotos mais inteligentes do grid. Foi o primeiro a apostar nos pneus slick quando a linha seca começava a se formar, ganhando tempo precioso sobre os rivais que ainda insistiam nos intermediários. Com isso, escalou o pelotão até terminar em sétimo, em uma performance sólida e estratégica. O contraste com o companheiro Charles Leclerc também chama atenção: o monegasco manteve a terceira colocação da largada e resistiu bravamente à pressão de Max Verstappen, segurando o pódio e mostrando que, pelo menos com Leclerc, o SF-25 ainda consegue alcançar bons resultados.

Após a corrida, Hamilton deu os créditos para a equipe e se desculpou pela perfomance ruim do fim de semana. “Desculpe por este fim de semana, pessoal. Perdemos pontos. Vou trabalhar mais duro para voltar mais forte na próxima corrida. Ótimo trabalho na estratégia e nas paradas”, disse Hamilton.
Bortoleto pede passagem — e prova que tem voz na Sauber
Mas talvez o episódio mais emblemático do domingo tenha vindo da Sauber. Gabriel Bortoleto voltou a pontuar — e isso por si só já é significativo. Depois do nono lugar em Silverstone, o brasileiro repetiu a dose em Spa, marcando mais dois pontos em uma corrida difícil, molhada e de alta exigência técnica. Sua atuação foi consistente desde a largada, mantendo a posição, lidando bem com a mudança de condições e, principalmente, protagonizando um dos momentos mais maduros de sua curta carreira na F1. Após ser superado por Hülkenberg no retorno do pit stop, Bortoleto viu o companheiro se afastar de Lawson e não hesitou: chamou a equipe pelo rádio, justificou com clareza que estava mais rápido e pediu a troca de posições. A Sauber respondeu, Hülkenberg obedeceu, e Bortoleto se distanciou com autoridade — sem conseguir atacar Lawson de fato, mas deixando claro que sabe o que quer dentro da equipe.
“Foi uma corrida desafiadora, mas a gente fez tudo certo. Mantivemos o foco, escolhemos bem os pneus e conseguimos trazer o carro de volta em P9. Estou feliz com o resultado, acho que tiramos tudo do nosso pacote,” disse Bortoleto após a corrida. A performance também rendeu elogios do chefe da equipe Sauber, Jonathan Wheatlhey: “Gabi entregou mais uma vez uma atuação impecável. Foi sólido o fim de semana inteiro nos treinos, na sprint e na corrida. Marcar pontos pela quinta corrida consecutiva mostra o quanto a equipe está trabalhando bem, tanto na fábrica quanto na pista.”

Curiosamente, foi a Sauber que, mais uma vez, errou na estratégia. Mas dessa vez, não com Bortoleto: o equívoco foi no pit stop tardio de Hülkenberg, que acabou voltando fora da zona de pontuação.
Com 13 etapas completadas, a F1 chega agora a Budapeste para o GP da Hungria, última prova antes da pausa de verão. E o cenário é claro: Piastri lidera, Norris precisa reagir, e Bortoleto vai se consolidando como um nome do futuro — e do presente — dentro do grid.
