A força da torcida: o espetáculo fora da pista do GP de São Paulo

Em Interlagos, o público é parte da corrida: brasileiros e argentinos dividem arquibancadas, e o GP de São Paulo reforça seu posto como o evento mais vibrante do calendário da F1.

Em Interlagos, o público é mais do que plateia, é parte ativa do espetáculo. O Grande Prêmio de São Paulo é um dos únicos, quiçá o único, evento da Fórmula 1 onde a corrida começa muito antes da bandeira verde. Desde as primeiras horas da manhã, as arquibancadas se enchem de bandeiras, cornetas e cânticos que ecoam pelas curvas do autódromo. Não há silêncio em Interlagos, e talvez seja exatamente por isso que o circuito carrega um peso emocional que nenhuma outra etapa da F1 reproduz.

A torcida brasileira tem uma forma muito própria de viver o fim de semana de corrida. Ela participa, reage e cria seus próprios rituais. Famílias chegam cedo, grupos montam churrascos improvisados ainda nas filas, e torcedores de todas as idades acompanham os tempos pelo celular enquanto vibram a cada passagem na Reta dos Boxes. O GP de São Paulo, no Brasil, é o único do calendário onde o público se manifesta por vinte pilotos diferentes, e ainda assim torce junto — o importante, acima de tudo, é o espetáculo.

O Setor G segue como o “coração pulsante” de Interlagos. É dali que surgem os gritos sincronizados, os cantos improvisados. O comportamento lembra o das arquibancadas de futebol, mas com um espírito diferente: aqui não há divisão. A torcida é ruidosa, apaixonada, mas respeitosa. É um tipo de envolvimento raro na Fórmula 1 moderna, uma herança direta dos tempos de Senna, quando o público fazia parte da corrida.

F1 2024, Fórmula 1, GP de São Paulo, Interlagos, Brasil
Foto: XPB Images

Argentina e Brasil: união em pista
A edição de 2024 marcou um novo capítulo nessa história. Centenas de torcedores argentinos cruzaram a fronteira para acompanhar Franco Colapinto, piloto da Williams, e transformaram a Avenida Paulista em um ponto de encontro de bandeiras celestes e brancas na véspera da corrida. A festa seguiu até Interlagos, com tambores, cânticos e uma atmosfera que chamou atenção das equipes estrangeiras pela convivência pacífica e pela vibração intensa.

No automobilismo, a rivalidade entre Brasil e Argentina simplesmente não existe. Em Interlagos, é comum ver torcedores dos dois países dividindo espaço, trocando bandeiras e celebrando lado a lado. Brasileiros aplaudem Colapinto, argentinos vibram com Gabriel Bortoleto. É um respeito que nasce da admiração mútua e da história compartilhada.

Ayrton Senna cresceu tendo Juan Manoel Fangio como um de seus ídolos. O argentino encerrou a carreira na F1 quando Senna ainda dava os primeiros passos no kart, mas sua elegância e técnica o influenciaram profundamente. Décadas depois, o público mantém o mesmo espírito: não há fronteiras quando o assunto é corrida.

F1 2024, Fórmula 1, GP de São Paulo, Brasil, Interlagos
Foto: XPB Images

O olhar do paddock
Para pilotos e equipes, o GP de São Paulo é uma das etapas mais intensas do calendário. Lewis Hamilton, cidadão honorário brasileiro, define Interlagos como “um circuito com alma”, e Max Verstappen, que já venceu em condições adversas, é “mais brasileiro que muito brasileiro por aí”. Ele tem vínculos fortes com o Brasil: sua esposa Kelly Piquet, filha do tricampeão mundial de F1 Nelson Piquet, e já declarou ser apaixonado pelo país.

Os engenheiros da F1 relatam algo semelhante: os treinos em Interlagos são acompanhados com a mesma empolgação de uma corrida. Até durante o TL1, há barulho, bandeiras e aplausos.

E em 2025, Gabriel Bortoleto estreia como piloto titular e adiciona uma nova camada a esse cenário. O público brasileiro volta a ter um nome próprio para torcer, e o sentimento é de retomada. Em um paddock dominado por estrangeiros, o eco das arquibancadas voltando a gritar por um brasileiro é um símbolo poderoso.

Circuito, atmosfera, F1 2023, Fórmula 1, GP de São Paulo, Interlagos, Brasil
Foto: XPB Images

Estrutura e segurança reforçadas
O público também será beneficiado por uma infraestrutura mais moderna. As novas arquibancadas modulares, vindas das Olimpíadas de Paris, melhoraram o conforto e a visibilidade, especialmente no Setor G, que agora conta com cobertura parcial e acessos ampliados.

A segurança e a mobilidade receberam reforço com o SmartSampa, sistema inteligente de monitoramento da Prefeitura de São Paulo. Com câmeras de alta resolução e inteligência artificial, o centro integrado acompanha o fluxo de torcedores dentro e fora do autódromo. A operação reúne CET, GCM, Polícia Militar e SPTrans, permitindo respostas rápidas e controle de tráfego em tempo real. O sistema já se tornou parte essencial da engrenagem que faz o GP funcionar com precisão de corrida.

Interlagos respira gente
O Grande Prêmio de São Paulo é mais do que uma corrida: é um retrato fiel do público que o cerca. Não há outro lugar no mundo onde o som das arquibancadas se confunda com o dos motores, onde a emoção esteja tão próxima da pista. Interlagos não apenas recebe a Fórmula 1, ele a interpreta à sua maneira.

E quando as luzes se apagam no domingo, o grito coletivo das arquibancadas é o primeiro combustível a mover os carros. É a prova de que, no Brasil, a força da torcida é parte do próprio espetáculo.



Baixe nosso app oficial para Android e iPhone e receba notificações das últimas notícias.