Há 15 anos o mundo perdia Ayrton Senna

Por Rianov Albinov (Motorpasion.com.br) – especial para a F1Mania.net

Sei que muitos jornalistas e blogueiros vão abordar o assunto com muito mais notoriedade do que eu, mas não posso deixar de relatar meu parecer. A partir de hoje até o dia 1º de Maio lanço uma série, com bases em informações colhidas na internet e em livros como exemplo, o de Ernesto Rodriguez.

Mostrarei relatos feitos por Senna, funcionários da Williams e amigos dele durante ano de 94 e momentos que antecederam e sucederam o fatídico XIV Gran Premio di San Marino.

“A direção parece de caminhão”, Senna sobre seu novo carro

O casamento Senna x Williams tinha tudo para ser um dos mais vitoriosos da história. Ayrton iria pilotar o carro que foi seu grande algoz em 92 e 93, mas para 94, uma série de limitações e modificações no regulamento, o impediu de demonstrar mais uma vez, todo o seu talento.

“(…) cadeira elétrica”, Senna em conversa com o amigo Pedro Queiroz

Era essa a impressão quando se via Ayrton pilotando o FW16. Com estas mudanças de regulamento, sua Williams se tornara muito arisca. De difícil pilotagem, nem de longe parecia o carro de Mansell (92) ou de Prost (93) quando foram campeões mundiais.

Para 94 a Williams perdia terreno, era mais lenta do que no ano anterior, já a maioria das outras equipes, vinham melhorando seus tempos. Uma das maiores evoluções vinha com um certo alemão pilotando uma Benetton.

“Michael Schumacher herdou as bases do contrato que Ayrton estava acertando com Montezemolo”, Julian Jakobi, relações internacionais de Ayrton

Com um ambiente bem diferente ao qual estava acostumado na McLaren (ruim, se é que se pode dizer isto), Senna cogitou em ir correr pela equipe de Maranello em 95. Ayrton se sentia muito desconfortável dentro e fora do carro. Dentro, o carro lhe machucava, fora, não tinha o mesmo “domínio” para com os mecânicos que tinha na época em que pilotava para Ron Dennis.

“Não vai ser fácil segurar o alemão”, de Ayrton para Emerson Fittipaldi

Prevendo uma maré ruim, Senna desabafou com Emerson. Na primeira corrida do ano, o GP Brasil, a disparidade entre Benetton e Williams era visível. Para superar seu rival, Senna fazia loucuras no carro, regulagens extremas para tentar algo contra Michael. Essa gana de Ayrton trazia como ponto negativo: a diminuição da segurança em prol da velocidade.

Na classificação, pole para Ayrton. Na corrida, após perder a primeira posição para ele nos pits, roda na junção na ânsia de alcançá-lo. O calvário iria ser longo…

“Era isso o que você queria?”, Senna para Galisteu

Frase dita por Ayrton na manhã dos treinos livres para o GP Brasil. Toda essa “revolta” contra Adriane foi por causa de uma reportagem de capa da revista Caras, que levava Ayrton e Adriane na capa e expunha a intimidade do casal. Seu Milton (pai), Dona Neyde (mãe) e boa parte da família de Senna eram contra o namoro.

O relacionamento dos dois já completava quase um ano, e segundo amigos mais ligados a Senna, esta foi uma das fases de maior felicidade amorosa que teve nosso tri campeão.

“Não vou, tenho medo dele”, Sonia Ito, tradutora

Após outro erro de Ayrton, agora já nos treinos do GP do Pacífico em Aida, os jornalistas locais pressionavam Ito a perguntar a ele sobre o carro, mas ele não respondia, ficava quieto e nervoso. Os japoneses insistiam, e ele não respondia, após esta rodada em Aida todos foram para cima dela. Era tanta pressão de um lado e tanto respeito para com o outro que Sonia foi às lágrimas em T.I. Aida.

“Pessoal, tivemos um mau começo, mas as coisas estão melhorando. Portanto, mãos à obra que nós vamos vencer!”, Ayrton para todos os funcionário da Williams em uma reunião de emergência em Didcot

Em uma reunião de emergência após outro abandono na temporada. Senna não estava acostumado com este tipo de trabalho, na McLaren, os mecânicos e engenheiros “dormiam” trabalhando no carro para acertar algo para Ayrton, já na Williams, quando o sol se punha, os mecânicos paravam de trabalhar.

“Michael 20, Ayrton 0”, Capa da revista Autosport com a cobertura do GP de Aida

Uma certa pressão começou a recair sobre os ombros de Senna, como se ele tivesse que provar algo a alguém na Formula 1. Senna reclamava muito com seus amigos mais íntimos e com o Staff da Williams. Disse categoricamente que a Benetton tinha algo errado, fora do regulamento, uma brecha. Ele se sentia mal por isso.

Meses depois, em uma investigação chefiada por Charlie Whiting, confirmou a desconfiança de Ayrton: Foi encontrado um tipo de Software que permitia que a Benetton burlasse o regulamento a espreita de punições. Senna não iria presenciar a confirmação de suas afirmações.

“Barrichello ficou morto por seis minutos”, Prof. Sid Watkins

O início do grande pesadelo. Aos 15 minutos do primeiro treino livre para o GP de San Marino, em uma volta rápida, Rubens Barrichello retarda demais a freada da Variante Basa, erra a entrada da curva, pega a zebra na saída como plataforma de lançamento, e vai de encontro à barreira de pneus e ao alambrado que ficava ao lado da curva. Tudo isso a mais de 200 km/h.

A Jordan capota e dá dois giros antes de parar, semi destruída, a uns 100 metros à frente. Rubinho sofreu um “abalo neurológico” e ficou asfixiado pela própria língua durante seis minutos. As coisas não começavam bem.

“Sua face estava distante, seus olhos estavam mareados e, durante a conversa, perdeu seu foco usual”, Mark Fogarty, Carweek

Senna ficou muito abalado com o acidente de Barrichello, de quem se considerava um irmão. Depois de sair do centro médico em Ímola, Ayrton tinha uma entrevista marcada com Fogarty: “Senna parecia cansado e disperso”.

A conversa se desenrolou com assuntos que ligavam Senna a seus inúmeros negócios fora da Formula 1, e aos problemas no FW16. A conversa foi interrompida com um dos engenheiros da equipe querendo Ayrton para uma reunião. Senna remarcou a continuação desta entrevista para a semana seguinte.

“Por que ele está assim? Eles eram amigos?”, Adrian Newey, projetista da Williams em conversa com Betise Assumpção

No minuto 18, já no treino de sábado que iria definir o grid de classificação, a asa dianteira da Simtek, do Austríaco Roland Ratzenberger, quebrara no início da curva Villeneuve, ponto este, o de maior velocidade do circuito.

A Simtek segue reto de encontro ao muro à 315km/h, bate forte, dá uma rodada, e para no meio da curva Tosa com seu lado esquerdo totalmente destruído. Podia-se notar um grande buraco no cockpit. Através dele via-se o braço de Ratzenberger, inerte, imóvel.

O capacete de Roland caíra para o lado, em uma cena absolutamente terrível e desoladora. Podiam-se ver manchas de sangue em cima da viseira, pelo lado de fora do capacete. Tudo isso era mostrado ao vivo pala TV para quase todo mundo.

Nos boxes da Williams, Senna iria para um canto e chorava. Chorava muito, compulsivamente. Ele foi um dos que mais sentiu a morte do companheiro.

“Existem coisas que fogem ao meu controle, preciso continuar”, Senna a Watkins

Horas depois, Senna foi até a Tosa e conversou com seu amigo Sid. Ele o aconselhou a parar naquele momento. Era desnecessário correr este tipo de risco. No retorno ao Motorhome da Williams, Senna se trancou por uma hora e refletiu sobre os acidentes. Em seguida, pediria a Frank para enviar à direção de prova, sua posição: Ele queria a suspensão da corrida, o motivo era a desestabilização dos pilotos.

A direção de prova não acatou o pedido de Ayrton, como ainda o ameaçaram de punição por causa de sua ida à pista sem autorização.

“ (FW)- Você que conhece bem o Ayrton, acha que ele vai correr amanha?

(GB)- Não só acho que vai correr, como vai fazer de tudo para ganhar.

(FW)- Você acha mesmo?

(GB)- Acho não! Tenho certeza”, Conversa entre Frank Williams e Galvão Bueno no anoitecer de sábado.

Frank estava preocupado com o estado de Ayrton. Segundo Patrick Head, ele nunca pressionaria Ayrton a correr, mas o fato dele ter presenciado uma morte “ao vivo” na F1, o abalara. Desde 82 a Formula 1 não vivia este triste dia em GP’s oficiais.

Quando Riccardo Paletti morreu, na largada do GP do Canadá, Senna era apenas um aspirante à categoria. O máximo que Senna viveu, foi a morte de Elio de Angelis em 86, quando seu ex-companheiro de equipe na Lotus, sofrera um acidente fatal em testes privados em Paul Ricard.

“Preciso lhe dar umas palmadas”, Ayrton à Adriane

O dia péssimo de Senna conseguiu ficar ainda pior. Uma fita lhe foi entregue por seu irmão Leonardo. Nela continha uma gravação de um telefonema entre Adriane Galisteu e um ex-namorado. Poucas pessoas tiveram acesso a essa tal fita, mas Braguinha, amigo de Senna, afirma que, na gravação, o ex de Adriane não foi, digamos, muito afetuoso com ele.

Mais a noite saiu para jantar com seus amigos: Galvão, Braguinha, Jakobi, Leonardo entre outros. O tema de quase todo o jantar foi Ratzenberger.

Antes de dormir, já de volta ao hotel, Senna passou no quarto de Frank e lá tiveram uma conversa de uma hora. Eles conversaram sobre Ímola e os próximos GPS. Frank revelou a Nigel Rouback que tinha absoluta certeza que Senna estava recuperado e pronto para a corrida.

“Jo, nosso querido esporte não perdoa. Está sempre nos lembrando que é perigoso”, Senna antes do Warm-up de Domingo

Tudo o que todos queriam era um domingo de paz em Ímola. Feriado lá como aqui, todos queriam saber como Senna reagiria aos acontecimentos dos dias anteriores. No sábado ele tinha feito a pole position antes do acidente de Roland, e até então, não tinha voltado à pilotar.

“Em primeiro lugar eu queria mandar uma mensagem para Alain Prost: Alain, eu sito falta de você”, Senna via rádio para TV francesa TF1, durante sua 1ª saída do Box

Em sua 1ª ida à pista após os acontecimentos, Senna, assim como em Interlagos, narra sua volta rápida pelo circuito, mas antes, diz essas palavras para o novo comentarista da TF1, Alain Prost.

Para espanto geral, Senna foi um segundo mais rápido que Schumacher no Warm-up. Já no briefing antes da largada, Senna, novamente por motivos de segurança, não queria a presença do Safety car na volta de apresentação. Segundo ele, isso prejudicaria o aquecimento dos pneus. Ninguém parecia “dar muita bola” para o fato. O briefing foi interrompido por conta de um grave acidente na copa Porsche preliminar da corrida.

As coisas não iam bem…

“Batida, batida!”, Galvão Bueno, largada do GP de San Marino

Mal foi dada a largada, mais um grande acidente marcava o GP. Quando o sinal verde se acendeu, o motor da Benetton de Jyrki Järvilehto apagou. Ele ficou parado no grid em sua 5ª posição.

Aproximadamente 17 carros se esquivaram do finlandês, mas Pedro Lamy, que largava em 22º com sua Lotus, não conseguiu. O português encheu a traseira de Letho e destroços voariam para a arquibancada e feririam quatro pessoas. Safety car na pista.

“Ninguém perguntou a ele como estava o carro. E ninguém perguntou por que o silêncio era sintoma da pressão a que todos estávamos submetidos.”, Patrick Head

Pela primeira vez na F1 um carro de segurança entrava na pista. Ele reorganizaria o grid, mas os 4º primeiros colocados se mantiveram: Senna, Schumacher, Berger e Hill. Senna temia que o carro de segurança ficasse muito tempo na pista puxando a fila, e os pneus e freios esfriassem muito. Ele era contra o uso dele.

Só que, durante as cinco voltas que o carro de segurança ficou na pista, nenhuma palavra partiu dos boxes para Senna ou de Senna para os boxes. O silêncio só era quebrado pelo V10 da Renault, doido para escapar de vez de um V8 Ford.

“Eles vão atingir os 330 quilômetros POR HORA,…, SENNA BATEU FORTE, Senna escapou e bateu muito forte…”, Galvão Bueno, Tamburello volta sete

Relargada e Senna novamente puxa a fila. Na 1ª passagem pela Tamburello, Schumacher vê o FW16 quicar muito no chão e soltar demasiadas faíscas. Na abertura da volta sete, Senna de pé cravado numa parte da pista onde a velocidade era extrema, inicia a fatídica curva. Ao final dela seu carro já estaria no muro.

Uma peça de aço aeronáutico que usaram como adaptação na barra de direção, para o melhor conforto de Ayrton na corrida, foi seu grande vilão. Esta peça se quebrou com a tensão exercida pelo carro em uma pista ondulada como a de Ímola.

Ao ir de encontro ao muro, a suspensão dianteira direita da Williams se quebra e vai de encontro ao capacete de Ayrton, em um vão acima da viseira. Esta “lança” destruiu a cabeça de Senna, que teve afundamento da frontal da face e seríssimas lesões cerebrais, com perda de massa encefálica, inclusive. O casco amarelo, verde e azul serviu para esconder e diminuir o choque para todos nós.

“O estado é grave e ele está inconsciente no cockpit”, Giuliano Mazolli, Comissário de pista

Uma das primeiras mensagens passadas via rádio à torre de controle foi esta. Mais do que prontamente, o professor Sid Watkins se encaminha para a Tamburello. Chegando lá, quando abriu a viseira de Senna, viria que o caso não tinha mais volta.

O rosto de Senna estava totalmente desfigurado, o sangue escorria e não havia modos de salvar seu grande amigo. “-Senna deu um grande suspiro. Seu rosto estava tranqüilo. Parecia em repouso. Tive ali, no momento em que o socorria, a estranha sensação de que sua alma tinha partido”

Tentaram restabelecer a normalidade da respiração e dos batimentos ali mesmo, mas não conseguiram, tiveram que retirar Senna do cockpit e o deitar no chão. Uma traqueostomia foi feita para tentar estabilizar o caso.

Vinte minutos após o acidente, Senna foi levado ao hospital Maggiore em Bolonha. Ainda vivia, mas os médicos que o tratavam já não tinham mais esperanças.

“Papagaio, pára! Ele morreu!”, Braguinha à Galvão, logo após o termino da corrida.

O “show” não podia parar, e não parou. Schumacher vence outra e dispara no munidal, mas o foco de 99,9% das pessoas era outro: Ayrton Senna. Boletins iam saindo e o estado de Senna só ia ficando pior.

Na pista, muitos fatos desencontrados iam se espalhando. “- Foi só um corte no braço, ele estará em Mônaco.” Essa foi uma de muitas informações desencontradas no Paddock. Com o termino da corrida, Galvão embarcaria em um helicóptero para Bolonha, junto dele iriam Berger e Braguinha.

“Olé, olé, olé-olâ, Senna, Senna! Olé, olé, olé-olâ, Senna, Senna!”, Vasco x Flamengo.

Era o que ouvia Luis Roberto da Rádio Globo em Bolonha, no seu ‘retorno’, podia se escutar o jogo entre Vasco e Flamengo, e, todos juntos, num coro só, cantavam para Ayrton.

A situação de Senna era crítica, as 18h horas no horário local, a médica Maria Thereza Fiandri anunciava sua morte cerebral. O eletroencefalograma não acusava mais nenhuma atividade. Quarenta minutos ápos este boletim, veio o derradeiro, Senna não tinha mais batimentos cardíacos.

“Uma notícia que a gente nunca gostaria de dar: morreu Ayrton Senna da Silva”, Roberto Cabrini

A esperança que muitos de nós ainda tínhamos acabou-se ali. Senna morreu fazendo o que mais gostava, sabia dos riscos da profissão, mas os aceitava. Amava o que fazia como ninguém, ia a lugares nunca antes atingidos, voava por cima de curvas e retas, acelerava com cada brasielrio a tiracolo. Era parte da família de todos, já nos tinhamos acostumamos com sua visita dominical. Alí, Senna deixou meio mundo sem chão.

“Queria vê-lo uma última vez”, Gerhard Berger

“Acabou. Acabou”, Galvão Bueno

“Fórmula 1 de merda!”, Emerson Fittipaldi

“Não é meu inimigo, não, viu? É concorrente”, Nelson Piquet

“Era uma parte da minha vida que estava sendo tirada de mim”, Alain Prost

“Vocês sabem que a pior dor do mundo é perder um amigo. Vamos tocar agora uma música que ele cantava e ouvia quando a gente estava junto, em qualquer lugar do mundo”, Milton Nascimento

“Num determinado dia, em uma determinada circunstância, você acha que tem um limite. Você chega até esse limite, você toca esse limite e pensa:

– OK, este é o limite! – Logo que você toca esse limite alguma coisa acontece e você pode ir um pouco mais além. Com o seu poder da mente, sua determinação, seu instinto e a sua experiência, também. Você pode voar muito alto!”, Ayrton Senna

“Juracy, só te digo uma coisa: quando eu morrer, assim que eu morrer, assim que eu terminar de morrer, quero correr tanto, mais tanto, que enquanto eu não encontrar o meu filho eu não paro”, Dona Neyde

Fontes: Ayrton, o herói revelado; Caminho das borboletas; Revista Veja; Revista F1 Racing, F1-Live



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