Audiência da F1 despencou na TV aberta com a saída da Globo

O retorno da Fórmula 1 à TV Globo em 2026 reacende um debate importante sobre a visibilidade da categoria no Brasil. Desde que deixou a emissora em 2020, a audiência da F1 encolheu drasticamente na televisão aberta. O comparativo entre o último ano da Globo, o primeiro ano da Band e o desempenho atual da emissora em 2025 evidencia o impacto direto que a mudança de casa teve sobre o alcance do campeonato no país. E o diferencial está na capilaridade da TV Globo. Mas eu te explico.

Globo em 2019: alcance nacional e picos históricos
Em 2019, a Fórmula 1 vivia uma fase sólida na Globo. A média nacional da temporada foi de 9 pontos no Painel Nacional de Televisão (PNT), o melhor desempenho em oito anos. O GP do Brasil marcou 12 pontos na Grande São Paulo e contribuiu para um alcance estimado de mais de 98 milhões de telespectadores ao longo do ano.

A emissora mantinha liderança isolada nos domingos de corrida, com ampla divulgação em sua grade, transmissões em TV aberta, SporTV e Globoplay, além de uma estrutura consolidada de cobertura editorial.

Band em 2021/ 2025: início tímido e audiência abaixo da metade
A Band assumiu as transmissões da Fórmula 1 em 2021 com a promessa de manter a categoria na TV aberta. Embora tenha dedicado boa parte da sua programação esportiva à cobertura do campeonato, o alcance foi visivelmente inferior ao da antecessora. A média das corridas variou entre 2,0 e 3,0 pontos nas principais praças — menos da metade da audiência que a Globo registrava dois anos antes. Apesar disso, em algumas etapas, a Band chegou a disputar a vice-liderança com concorrentes como SBT e Record.

Cinco temporadas depois, em 2025, a Band mantém um padrão de audiência estável, mas ainda distante da emissora carioca. Em 2025, até o momento, a média da Fórmula 1 na emissora é de 2,73 pontos. Corridas como o GP da Áustria e o GP de Miami registraram as maiores audiências do ano, com 3,5 pontos de média e picos superiores a 4,5 pontos. O GP de Mônaco também se destacou, com média de 3,3 a 3,7 e participação de mais de 10% no horário.

Etapas em horários desfavoráveis, como Austrália, Japão e China, tiveram desempenho mais modesto, variando entre 1,5 e 1,8 pontos. Ainda assim, a Band conseguiu se manter na vice-liderança em vários desses domingos — um avanço em relação a 2021, mas insuficiente para recuperar a força que a categoria tinha na era Globo.

Largada - GP do Bahrein F1 2021
Foto: XPB Images

A diferença está no alcance: por que a Globo chega a mais lares que a Band
Uma das principais diferenças estruturais entre Globo e Band está no alcance de sinal. A Globo possui uma rede nacional consolidada, formada por mais de 120 emissoras próprias e afiliadas, com retransmissoras espalhadas por praticamente todos os 5.570 municípios brasileiros. Essa estrutura permite que a emissora cubra mais de 98% da população do país, segundo dados oficiais da Ancine e da Anatel. Em muitas regiões do interior ou de difícil acesso – como aqui em Boituva, local que escrevo esse texto -, o sinal da Globo é o único que chega com estabilidade — por meio de antenas terrestres, repetidoras ou sinal digital aberto.

Já a Band, embora esteja presente nos principais mercados e capitais, não conta com a mesma capilaridade (olha o termo aqui de novo). Sua rede de afiliadas é menor e está concentrada em áreas urbanas, o que limita a distribuição do sinal em grande parte do território nacional. Isso significa que, em centenas de cidades brasileiras, a população simplesmente não consegue sintonizar a Band com qualidade suficiente, seja por ausência de retransmissoras, seja por restrições de cobertura técnica.

Esse contraste estrutural pode ser explicado por um conceito-chave: capilaridade (agora eu vou te explicar). A palavra capilaridade tem origem no termo “capilar”, que vem do latim capillaris, e significa “relativo a cabelo” — ou seja, algo muito fino, pequeno, delicado. No uso técnico, capilaridade é a capacidade de algo se espalhar por canais muito estreitos, como o sangue nos capilares do corpo humano ou a água subindo por um papel ou tecido.

No contexto da televisão, capilaridade é a capacidade de uma emissora de chegar, com sinal e conteúdo, ao maior número possível de localidades e pessoas no território nacional. Assim como os capilares do corpo humano distribuem sangue a todas as extremidades, uma rede com alta capilaridade consegue distribuir sua programação até mesmo às áreas mais remotas do país.

Audiência da F1 despencou na TV aberta com a saída da Globo

Ter capilaridade alta envolve:

– Manter repetidoras (RTVs) que retransmitem o sinal digital;
– Estabelecer cabeças de rede estaduais, que geram programação local e organizam a distribuição regional;
– Investir em produção local, como jornais e chamadas regionais;
– Garantir presença em diversas plataformas, como TV terrestre, parabólica, aplicativos e TV paga.

A Globo é a única emissora brasileira com cabeças de rede estaduais em todos os estados da federação, o que reforça sua presença e influência cultural. A Band, por outro lado, possui menos afiliadas e geralmente atua como emissora de sinal direto em grandes cidades — sem a mesma rede de apoio para chegar às periferias geográficas do país.

Essa diferença é fundamental quando falamos de eventos esportivos de interesse nacional, como a Fórmula 1. Emissoras com maior capilaridade atingem mais pessoas simplesmente por estarem disponíveis onde outras não estão. Isso explica, em parte, por que a audiência da F1 caiu tanto quando saiu da Globo e foi para a Band — e também por que a Liberty Media optou por retornar à Globo em 2026, mesmo com uma proposta financeira menor: alcançar mais pessoas importa mais do que apenas arrecadar mais dinheiro.

A volta à Globo: uma decisão estratégica para a F1
A Fórmula 1 retorna à Globo a partir de 2026 com um contrato que envolve exibição em TV aberta, SporTV e Globoplay. Serão transmitidos 15 GPs ao vivo na TV aberta, com as demais etapas distribuídas entre os canais por assinatura e streaming. Mesmo com menos corridas ao vivo que a Band — que exibe todas as 24 etapas — a expectativa é que o impacto de audiência seja amplamente superior.

Largada GP de Abu Dhabi F1 2019
Foto: XPB Images

Simulação de impacto de audiência: Globo vs Band
A diferença entre os alcances é tão significativa que vale uma simulação. Supondo que a Globo mantenha uma média de 9 pontos por corrida, como em 2019, e transmita apenas 15 etapas:

– Globo (15 corridas x 9,0 pontos) = 135 pontos acumulados de audiência

Agora, suponhamos que a Band mantenha a média atual de 2,73 pontos em 2025, transmitindo todas as 24 corridas:

– Band (24 corridas x 2,73 pontos) = 65,52 pontos acumulados de audiência

Mesmo com nove corridas a menos, a Globo pode alcançar mais que o dobro de audiência acumulada na TV aberta, apenas considerando a média por etapa. A diferença estrutural se traduz diretamente na audiência. Emissoras com maior capilaridade tendem a registrar índices mais altos porque simplesmente estão acessíveis a mais pessoas. E no caso da TV aberta — onde a disponibilidade gratuita ainda é essencial em boa parte do país — isso faz toda a diferença. Foi esse um dos fatores que pesaram na decisão da Liberty Media de retomar o contrato com a Globo para transmitir a F1 a partir de 2026: não apenas quem paga mais, mas quem atinge mais.



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