Coluna Grand Prix: Pista e disputa quentes

Qual é a chance de alguém derrotar a Ferrari neste fim de semana em Sepang e botar algum tempero no Mundial? Esta é a pergunta que mais se ouve desde o passeio que Williams, Renault, McLaren e companhia levaram da equipe pentacampeã dos construtores na corrida de abertura do campeonato, duas semanas atrás. O tempo quente da corrida na Malásia (temperaturas acima dos 35ºC) aumenta as esperanças das equipes que usam pneus Michelin, mas pode não ser suficiente para esquentar de verdade a disputa no Mundial.

O retrospecto dos dois últimos anos até permite que as rivais sonhem com uma reviravolta. Em 2002 a Williams garantiu a vitória a Ralf Schumacher e, no ano passado, deu Renault na pole com Fernando Alonso e uma vitória tranquila da McLaren de Kimi Raikkonen. Mas na previsão de Barrichello não há espaço para nenhuma reação desse tipo. Seja qual for a temperatura na corrida malaia, ele tem prazer ao afirmar que todos aqueles que estão esperando neste fim de semana uma corrida diferente daquela de Melbourne vão se desapontar. Não são poucas as razões desta certeza: a equipe correrá na Malásia já com o carro do ano, o que não acontece desde 2001; o novo pneu da Bridgestone, na avaliação de Schumacher, anula a antiga vantagem que os Michelin tinham quando a temperatura sobe muito; apesar do calor, em cinco edições da corrida na pista de Sepang, a Ferrari largou quatro vezes na pole e venceu três.

No ano passado, o GP da Malásia premiou a mais nova geração de pilotos. Na classificação, a pole ficou com Fernando Alonso, o espanhol que, na época com 21 anos e 236 dias de idade, tornou-se o piloto mais jovem – e o primeiro espanhol – a largar na frente na história da categoria. Na corrida quem brilhou foi outro novato, Kimi Raikkonen, ao obter a primeira e única vitória dele na carreira. Para a Ferrari, as coisas não saíram bem. Schumacher bateu no Renault do italiano Jarno Trulli logo na primeira curva, sendo punido com um “drive-through”, e Rubinho, mesmo em segundo, ficou 39s286 atrás da McLaren.

O calor tropical da região de Sepang proporciona um enorme desafio à resistência física dos pilotos. A temperatura dentro do cockpit pode chegar a 50ºC, e quem não estiver em forma acaba tendo problemas durante a corrida. Isso provoca até mesmo um custo extra para as equipes. A Williams, por exemplo, leva para Sepang cerca de três mil latas de refrigentes e garrafas de água mineral, 15% a mais do que em qualquer outro GP. A pista, de 5,543 quilômetros e 15 curvas, é extremamente larga, o que cria vários pontos de ultrapassagem, especialmente nas duas retas paralelas. Mas, depois delas, vem o trecho do miolo, com uma sequência de curvas rápidas, que é um dos pontos-chave para se conseguir andar rápido. Os vencedores desta corrida, desde 1999, foram: Eddie Irvine (Ferrari), Michael Schumacher (Ferrari) em 2000 e 2001, Ralf Schumacher (Williams-BMW) em 2002, e Kimi Raikkonen (McLaren-Mercedes) em 2003.

Reforço na Stock – Depois de sete anos correndo nos EUA (Indy Lights e IRL), mas ainda com 26 anos de idade, Ayrton Daré volta a correr no Brasil, disputando o campeonato brasileiro de Stock Car pela equipe de Affonso Giaffone. A decisão foi tomada no ano passado, durante o período de recuperação de uma fratura do fêmur direito, consequência de um grave acidente sofrido em junho a 350 km/h no circuito oval do Texas. Daré foi campeão brasileiro de jet-ski. Da água para o asfalto, ele correu na Fórmula Uno e Fórmula Chevrolet antes de ingressar no automobilismo norte-americano, onde conquistou vitórias e o título de estreante do ano na IRL em 2000. Além de Daré, a Stock terá Hoover Orsi, outro destaque internacional atraído pela competitividade da categoria, e que também construiu sua carreira em monopostos. Hoover, 24 anos, foi campeão sul-americano de F-3 e campeão da Fórmula Atlantic nos EUA.

Retorno de peso – Ao completar 80 anos de Brasil, a Philips volta a investir forte no automobilismo brasileiro, escolhendo a Stock Car e a equipe de Carlos Alves, que tem uma boa estrutura montada há mais de dez anos. Com os pilotos Luís Carreira Jr., campeão da Light no ano passado, e o próprio Carlos Alves, a Philips resgata sua história no automobilismo, iniciada em 1949, quando patrocinou o Studebaker de Antonio Parra numa competição de 1,2 mil quilômetros que durou três dias. Em 1957 foi responsável pela iluminação do autódromo de Interlagos na segunda edição da “Mil Milhas Brasileiras”. Em 1975 chegou ao título brasileiro da Fórmula Super-Vê com Marcos Troncon. No final dos anos 80 foi campeã sul-americana de F-3 com Christian Fittipaldi e tinha sua marca nos carros Jordan de Mauricio Gugelmin na F-1, mas por iniciativa da matriz, na Holanda. No Brasil, a Philips voltou ao automobilismo no ano passado e, graças a uma experiência positiva que levou ao título da Stock Light com Luis Carreira Jr., ela subiu um degrau para estar presente na mais importante categoria do automobilismo brasileiro.

Olhando para a frente – Já pensando em 2005, além de disputar o campeonato sul-americano de F-3 agora em 2004, Xandinho Negrão acertou também um pacote de 10 testes na F-3 inglesa pela equipe Carlin, a mesma de Danilo Dirani, atual campeão sul-americano, que estréia este ano no automobilismo europeu. E ficou satisfeito com o primeiro desses testes, quarta-feira na pista de Croft, quando deu 102 voltas e fez o melhor tempo entre os brasileiros. Ele andou 0s002 mais rápido do que Dirani, e 0s131 à frente de Nelsinho Piquet, que corre pela Piquet Sports.

Reginaldo Leme

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.