Coluna Grand Prix: A única certeza

Se a gente olhar para a classificação final do campeonato passado (Schumacher 93, Raikkonen 91) e verificar que, na soma de tudo o que se passou no decorrer do ano, dois modestos oitavos lugares (Hungria e Japão) acabaram garantindo a Schumacher os pontinhos que definiram a briga pelo título, fica claro por que se espera tanto do novo Mundial que está começando. A disputa pelos melhores tempos na pré-temporada, desta vez, envolveu mais do que duas equipes, inclusive com algumas surpresas, e o mais longo campeonato da história da Fórmula 1 terá 18 corridas para demonstrar se a Ferrari pode ser superada por alguma dessas rivais que andaram ameaçando e, principalmente, se Schumacher já não é imbatível, como insiste em dizer o falastrão Montoya.

Montoya é muito bom para levantar polêmica e até para agitar um campeonato, mas ainda está devendo. O que ele tem de melhor, que é a combatividade, às vezes fica encoberta pelos erros cometidos em momentos decisivos e, por isso, ele nem sempre consegue desempenhar na pista o papel de anti-Schumacher que adora assumir nos bastidores e na mídia. Mas, se as lições de 2003 tiverem servido para amadurecer este colombiano de 28 anos, a parada vai ser dura, até porque, antes de enfrentar Schumacher, ele terá que ser mais forte do que Raikkonen, Ralf e Rubinho, sem contar as vezes em que Coulthard levantar com o pé direito. O nome de Rubinho está, sim, nessa lista de pilotos de ponta. Na coluna passada, defendi aqui a idéia de que este ano a Ferrari deveria lutar com suas duas armas para aumentar o poder de força da Bridgestone, que só conta com ela para enfrentar a forte brigada Michelin, que tem Williams, McLaren, Renault, BAR, Toyota e Jaguar. E parece ser mesmo esta a intenção, pelo que disse o presidente ferrarista Luca de Montezemolo, garantindo que Barrichello estará livre para correr pelo título sem ter a obrigação de ajudar Schumacher. Só depende do cronômetro. Será que isso se confirma na hora em que estiverem em jogo os 10 pontos de uma vitória? É mais um aspecto a conferir quando as luzes vermelhas se apagarem.

Se houve blefe, se alguém escondeu jogo ou passou a impressão de ter mais do que realmente tinha, chegou a hora de saber. Da BAR, que andou fazendo tempos extraordinários, dizem que os carros estavam abaixo do peso mínimo, mas não se pode descartar uma equipe que tem a Honda como parceira. A Renault prefere que não se fale tanto dela, mas essa atitude só vem deixar os rivais ainda mais assustados, tanto que Schumacher chega a apontá-la como uma força maior que a da McLaren. Aliás, esta é uma questão a ser desvendada: por que ninguém acredita muito na McLaren ? E os seis recordes que o MP4-19 estabeleceu no começo do período de testes? Por trás dessas críticas que até os pilotos andaram fazendo, a equipe não poderia estar escondendo jogo? Esta é uma dúvida que não existe no caso da Williams. A equipe tem certeza de que o FW26 e o motor BMW são bons, mas o câmbio pode ser um ponto fraco. O certo é que havia muito tempo a gente não tinha um início de temporada tão sem prognóstico firme. Parece que a Ferrari estava adivinhando isso quando optou por projetar um novo carro bem convencional. Resultado: em meio a tantas dúvidas, ela é a única certeza.

Pegou no tranco

A McLaren precisa dar a volta por cima nas expectativas negativas, porque esta será a 150ª corrida em parceria com a Mercedes-Benz. A novidade da semana é que David Coulthard acordou e percebeu que só vai apagar a má impressão causada pela sua anunciada demissão no fim da temporada para dar lugar a Montoya, se conseguir andar na frente de Kimi Raikkonen. No ano passado cada um obteve uma vitória, mas Coulthard terminou o campeonato 40 pontos atrás do companheiro.

Festa dos 200

Todo ano o Mundial tem, pelo menos, um GP com uma data a comemorar. Em 2004 caberá à Ferrari fazer uma festa em Mônaco para homenagear, ao mesmo tempo, seus dois pilotos. No dia 23 de maio, data do GP, Rubinho completa 32 anos de idade, e Schumacher disputa o seu 200º GP na Fórmula 1.

Começar de novo

Felipe Massa está de volta, justamente em Melbourne, onde ele disputou seu primeiro GP em 2002. Além de muito treino de pista, Felipe passou por uma intensa preparação física, trabalhando até cinco horas por dia ao lado do preparador Vanderlei Pereira, que é o mesmo de Rubinho Barrichello. A sua equipe, a Sauber, este ano deverá ser mais parceira do que nunca da Ferrari, porque as seis últimas colocadas no campeonato passado (BAR, Sauber, Jaguar, Toyota, Jordan e Minardi) terão direito a treinar com três pilotos na sexta-feira e o carro atual da Sauber é uma cópia da Ferrari do ano passado.

Favoritos no Japão

Atual campeão alemão de Fórmula 3, João Paulo de Oliveira foi o mais veloz dos testes coletivos da categoria no Japão, nas pistas de Aida e Suzuka. Em 27 de março João Paulo, que é ainda test-driver dos motores Honda de Fórmula-1, estréia neste campeonato, que já revelou Ralf Schumacher e Eddie Irvine, junto com outro brasileiro, Fábio Carbone.

Com cara de F-1

A apresentação da nova equipe Volkswagen de Fórmula Truck, esta semana, teve clima de lançamento de carros de Fórmula-1. Os quatro pilotos, Renato Martins, Débora Rodrigues, Jonatas Borlenghi e Beto Napolitando baixaram a cortina que cobria o novo modelo revelando novidades na suspensão e no spoiler, que ganhou maiores entradas de ar. São pequenos detalhes com os quais Martins espera conquistar um novo título na Truck. Desde 96, quando foi campeão, Renato viu esse título escapar pelos dedos em outros cinco campeonatos nos quais acabou ficando com o vice.

Reginaldo Leme

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.