Tradição x Dinheiro – novo nome da AlphaTauri gera polêmica na F1

A Fórmula 1 vive um dilema: tradição versus patrocínios milionários. A mudança de nome da AlphaTauri para Visa Cash App RB, reacendeu a discussão sobre até onde os times podem ir para atrair grandes empresas.

Muito provavelmente, será difícil encontrar alguém que ache ‘Visa Cash App RB’ um bom nome para uma equipe de F1. A motivação por trás disso é clara: dinheiro. A Red Bull se aproveita de ter uma equipe secundária para experimentar algumas coisas, enquanto a marca principal se mantém relativamente intacta. Mas o novo nome causou uma sensação estranha em muitos fãs e se distancia drasticamente da história da antiga Minardi, que ocupava a mesma fábrica em Faenza, antes de se tornar Toro Rosso, depois AlphaTauri e agora Visa Cash App RB.

Mesmo após a compra da Minardi pela Red Bull em 2005, havia a preocupação em manter um nome com significado. Toro Rosso era o italiano para ‘Touro Vermelho’, e AlphaTauri fazia referência a uma estrela da constelação de Touro, além de ser uma marca italiana de roupas.

Visa Cash App RB não carrega nada dessa herança. A Red Bull não está sozinha. A Sauber, ex-Alfa Romeo, abraçou uma marca de criptomoedas de apostas esportivas proibida em alguns países onde a F1 corre, a Stake F1 Team. Bancos também já estiveram presentes, com o malfadado time MasterCard Lola.

Não se trata de culpar a Red Bull. A F1 é cara, e as equipes dependem de patrocínios para sobreviver. Mas há uma linha tênue a ser traçada.

Olhando para a lista de inscritos da FIA para a F1 em 2024, apenas três equipes não possuem patrocinadores principais, justamente as mais antigas do grid. No caso de Mercedes e Red Bull, por exemplo, os patrocinadores foram integrados ao nome, não o substituindo completamente. O nome completo da Mercedes é ‘Mercedes-AMG PETRONAS F1 Team’. A Red Bull é ‘Oracle Red Bull Racing’. A Aston Martin, até o ano passado, tinha dois patrocinadores principais: Aramco e Cognizant.

Não são apenas os times. A primeira corrida da temporada será o ‘Formula 1 Gulf Air Bahrain Grand Prix’. Apenas dois circuitos, Canadá e Mônaco, não têm patrocinador principal, pelo menos até o momento.

Dinheiro sempre esteve ligado à história da F1, mas o esporte já recebe mais liberdade que qualquer outro. Imagine no futebol: se Manchester United virasse ‘Visa Cash App MUFC’, a revolta seria imediata.

Mas até onde a F1 pode ir antes que a categoria perca sua essência? Tradicionalmente, uma equipe era nomeada em homenagem ao seu fundador. Isso acontece com apenas quatro equipes em 2024 (Ferrari, McLaren, Williams e Haas). Fabricantes de carros, como Mercedes e Alpine, também são nomes comuns, e ninguém se opõe a isso. Mas quando gigantes como Visa entram em cena, a sensação para os fãs é de desrespeito.

O torcedor que gasta centenas de reais ou dólares em assinaturas de TV ou ingressos para corridas, não o faz para ver seu serviço financeiro favorito vencer outro. A F1 gosta de se gabar de sua história para promover o produto, mas também não hesita em atropelá-la se isso significar mais zeros no cheque.

Até onde isso vai? A F1 um dia será uma disputa de título entre Amazon e Tesla? Max Verstappen Jr. assinará com a Google Racing? O campeonato será renomeado para ‘Apple 1 Championship’? Esses podem ser exemplos extremos, mas a F1 caminha em uma corda bamba entre aceitar o dinheiro e pisar em sua própria história.