Na melhor prova do ano, F1 em Miami consagra Norris, homenageia Gil e Senna

Se os fãs mais antigos ainda reclamam do estilo “muito americano” da nova gestão da F1, quis o destino que a melhor corrida da temporada 2024 até aqui fosse justamente em Miami, a primeira das três provas nos Estados Unidos no calendário.

Foi uma corrida histórica por muitos motivos, mas o principal deles: a primeira vitória de Lando Norris na F1. O inglês já tinha 109 GPs de experiência e, embora ainda seja muito jovem, já começava a carregar o estigma de sempre bater na trave e nunca vencer.

O meme “Lando NOWINS” já o assombrava e ele mesmo fez questão de mostrar na entrevista coletiva após a corrida, onde o F1MANIA.NET acompanhou in loco, que um dos maiores prazeres desta conquista foi justamente calar estes críticos.

Ainda no Hard Rock Stadium, já no início da noite de domingo, estive na conversa com o chefe de equipe da McLaren, Andrea Stella, e ele foi enfático ao dizer que Norris não havia vencido ainda na F1 porque também faltava a parte de um carro competitivo.

“A gente sempre soube que, no dia em que ele tivesse um carro vencedor, ele conquistaria a vitória. E foi assim aqui em Miami”, comentou o italiano, que foi abraçado por Carlos Sainz em um momento de descontração em meio a esta conversa da McLaren no espaço da equipe inglesa dentro do estádio.

Aliás, ver uma primeira vitória tendo tanto impacto mostra que a nova gestão da F1 com a Liberty Media também está fazendo bem ao ambiente da categoria. Era nítido ver outros pilotos genuinamente felizes com o resultado, como Lewis Hamilton ainda na pista cumprimentando Norris no carro, e Max Verstappen e Charles Leclerc no pódio e na entrevista coletiva. Até Frederic Vasseur foi dar os parabéns a Zak Brown e ainda ganhou um boné laranja de presente antes da foto oficial da McLaren com todos os integrantes do time, em Miami.

Aliás, foi neste momento que a cobertura do GP também foi especial para nós, brasileiros: a placa comemorativa da McLaren trouxe um tributo a Gil de Ferran, que faleceu no ano passado e era um dos gestores do time nesta nova fase de busca pelos bons tempos de vitórias e títulos. “This One’s for Gil” trazia a mensagem da placa junto com o P1 de Norris. Na corrida Sprint, inclusive, a filha de Gil, Anna de Ferran, esteve presente como a DJ oficial do grid de largada.

As homenagens a Ayrton Senna também contribuíram para a vitória da McLaren ter um pequeno sabor brasileiro em Miami. Ao longo do final de semana, o time fez diversas postagens alusivas ao novo mural feito pelo artista Eduardo Kobra e inaugurado na quinta-feira passada com a presença de Bianca Senna, CEO de Senna Brands e sobrinha de Ayrton Senna. E tanto Norris quanto Oscar Piastri carregam nos carros a marca Senna na base do halo, mostrando a forte ligação do ídolo brasileiro que conquistou seus três títulos mundiais com a McLaren, em 1988, 1990 e 1991.

Este repórter mesmo percebeu a emoção do time McLaren quando o assunto é Senna ao entregar a Zak Brown um pin especial do legado de 30 anos de Senna para o CEO da equipe em plena celebração do pódio. O norte-americano fez questão de colocar em sua credencial e fazer todos os vídeos e fotos de comemoração da vitória de Norris com ele. O mês de maio certamente trará muitos tributos a Senna nas próximas corridas, ainda mais por serem em Ímola e Mônaco.

A vitória de Norris também teve o estilo americano ao contar com uma boa dose de sorte da entrada do safety car e da estratégia, como nas provas da Indy. Norris ainda não havia parado e se beneficiou desta intervenção, mas o fato é que a prova já estava mostrando boas disputas em diversas posições até ali.

Outro indicativo é que Verstappen não teve ritmo para superar Norris após a relargada e nem mesmo para acompanhar a McLaren nas voltas finais. Claro, ainda é muito cedo para decretarmos que o campeonato de 2024 será mais competitivo, mas o fato é que em seis provas, a F1 teve três vencedores diferentes (Verstappen, Carlos Sainz e agora Lando Norris) com três equipes diferentes (Red Bull, Ferrari e McLaren).

Andrea Stella comentou aos jornalistas presentes na entrevista após a corrida que não vê este equilíbrio como a regra em 2024, e sim como uma exceção, pelo fato de a Red Bull não ter se adaptado bem neste final de semana com os pneus neste circuito de rua e nestas condições de temperatura, aderência de pista e etc.

Mas é fato que o Mundial de F1 ganha um fôlego e que, em um final de semana em que Adrian Newey comunicou sua saída da Red Bull, mostra que a hegemonia do time austríaco já dá sinais de queda. Nossa reportagem flagrou Helmut Marko conversando com Toto Wolff em um canto do paddock em Miami – é claro que o assunto já indica uma tentativa de Verstappen procurar um novo espaço caso realmente a casa da Red Bull comece a ceder.

E não necessariamente para 2025, já que ainda para o ano que vem o time dos energéticos será o favorito a ganhar o Mundial. Com cinco títulos no bolso, Verstappen certamente teria portas abertas em qualquer equipe para 2026 e, com o passar do tempo, já terá mais informações sobre o desenvolvimento dos carros nas novas regras para saber afinal qual o melhor assento de 2026 em diante.

O teto de gastos, as novas regras do carro e de motor, a entrada de novas montadoras e o jeito americano de fazer o esporte, no qual o saudável equilíbrio entre os times parece ser a força vital para que o fã continue torcendo para o esporte, prometem uma pequena revolução para a F1 em 2026.

E o GP de Miami deste ano já foi um pequeno aperitivo de como é bom para o esporte e para os fãs ter esta alternância de vencedores, dinâmicas imprevisíveis etc. Nada mais emblemático de isso acontecer justamente em um circuito de rua nos Estados Unidos nos arredores de um estádio de futebol americano…

O F1MANIA.NET acompanhou o GP de Miami ‘in loco’ com os jornalistas Victor D. Berto e Rodrigo França.