O dia 01 de maio de 1994, dificilmente será esquecido pelos apaixonados por automobilismo e Fórmula 1, principalmente os brasileiros, bem como aqueles que não se importam muito com corridas de carro.
Foi nesse fatídico dia, durante o GP de San Marino realizado no circuito de Ímola, que Ayrton Senna escapou na curva Tamburello, bateu forte no muro e foi atingido na cabeça por uma roda que se soltou do carro, ainda com um pedaço da suspensão da Williams presa nela.
Como é bastante conhecido, esse pedaço de suspensão atravessou o capacete de Senna como uma lâmina e atingiu o cérebro do tricampeão de maneira fatal. Além disso, o piloto brasileiro teve uma grave lesão na base do crânio, que muito provavelmente, também seria suficiente para matá-lo.
Assim que recebeu os primeiros atendimentos, foi constatado que Senna já estava morto, mas os médicos, liderados pelo Dr. Sid Watkins, então médico da FIA na F1 também já falecido, conseguiram fazer o coração do piloto brasileiro voltar a bater, mas os danos cerebrais eram irreversíveis.
Mesmo assim, Senna foi levado de helicópetro para o hospital, onde foi declarado oficialmente morto algumas horas depois.
Quem vivenciou aquela situação, que foi transmitida ao vivo pela TV no mundo todo, muito provavelmente lembra o que estava fazendo no exato momento do acidente, bem como foram as horas seguintes até o anúncio oficial do falecimento de Senna. Foram momentos e horas repletas de muita angústia, misturada com alguma esperança.
Eu particularmente, lembro perfeitamente bem daquele dia. Estava como fazia todos os domingos em que havia corrida de Fórmula 1, deitado na cama do meu quarto na casa dos meus pais, assistindo a corrida na TV.
Já havia um clima bastante tenso no ar, pois aquele final de semana foi um dos piores na história da F1, com o grave acidente do também brasileiro, Rubens Barrichello nos treinos livres de sexta-feira, onde por pouco Rubinho não perdeu a vida, além de outro acidente, dessa vez fatal, de Roland Ratzenberger, na sessão de classificação no sábado.
Para piorar a situação, assim que foi dada a largada na corrida no domingo, um novo acidente ocorreu, que inclusive lançou pedaços de carros na arquibancada, chegando a ferir alguns espectadores, mas sem muita gravidade.
Foi então que o Safety Car foi acionado e o grid se alinhou para algumas voltas atrás do carro de segurança, até que a pista fosse completamente limpa.
Senna havia conquistado a pole position naquele fim de semana e era seguido de perto por Michael Schumacher, que vivia o início de seu apogeu na Fórmula 1. Quando foi dada a relargada (em movimento), Senna começou a abrir uma certa vantagem para Schumacher que vinha em segundo.
Até que poucas voltas depois da relargada, a câmera do carro de Schumacher, mostrou quando a Williams de Senna virou repentinamente para a direita na curva Tamburello, que era à esquerda, indo direto para o muro.
O resto da história é bem conhecido, inclusive a enorme comoção que a morte de Senna causou, principalmente no Brasil, que praticamente parou no dia do enterro do piloto brasileiro em São Paulo.
Voltando ao dia do acidente, como eu disse, me lembro que estava na cama vendo a corrida e quando Senna bateu, pela maneira como a cabeça dele ficou ‘de lado’, junto com sua falta de reação, e mais alguns anos assitindo Fórmula 1, que tinha uma quantidade enorme de acidentes graves e fatais anteriormente (me lembro de quando ainda era criança, dos acidentes de Ronnie Peterson, Gilles Villeneuve e Riccardo Paletti), percebi que algo muito sério havia acontecido.
Levantei da cama e fui para a sala, onde meu pai e meu irmão também assistiam a corrida, e juntos passamos a acompanhar o desenrolar daquela situação horrível.
Naquele domingo, ainda tínhamos um churrasco para ir na casa de um tio, e fomos para lá ainda sem saber o que iria acontecer com Senna, pois as informações não chegavam tão rapidamente como agora, em uma época pré-internet como a conhecemos hoje. A única certeza é que era algo muito grave.
Lembro támbém que o clima no churrasco não era dos melhores, pois todos estavam preocupados e ansiosos para saber mais notícias, mesmo as pessoas que não se interessavam por automobilismo ou Fórmula 1.
Até que veio a confirmação oficial do falecimento de Senna, dada pelo jornalista Roberto Cabrini, então na TV Globo, que tinha os direitos de transmissão da F1 no Brasil.
Se o clima já não estava nada animado, depois da notícia ficou ainda pior, com praticamente todos os presentes chorando. Mais tarde, ainda naquele mesmo dia, fiquei sabendo que aquilo que vivenciei, havia acontecido em praticamente todos os lares brasileiros que tinham acesso às informações.
Mesmo não sendo parente, nem conhecendo Senna pessoalmente, a notícia de sua morte chocou a todos, pois ele era como um herói para todo o povo brasileiro, e um herói “não morre”, então era difícil acreditar que aquilo fosse verdade.
Acredito que assim como eu lembro dos acontecimentos daquele 01 de maio de 1994, muitas outras pessoas também se recordam do que estavam fazendo, de onde estavam, e como foi a reação de todos ao redor.
Então, o que nos resta agora, trinta anos após a morte de Senna, é continuar honrando sua memória, e tentar fazer com que seu legado esportivo e também humano, não seja esquecido nunca, e que quando tocar novamemte o “Tema da Vitória”, as lágrimas que inevitavelmente chegam, principalmente para quem vivenciou aquilo tudo, sejam como uma bela homenagem ao eterno tricampeão de Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva.